Podre Poder
Nesta análise, proponho-me a tarefa antipática de tecer comentários críticos às várias interpretações do termo “poder.” Na citação – Podre Poder – não pretendo exercitar a simples construção de anagramas, mas conduzir uma breve reflexão no sentido de exorcizar as falácias que o incubo ideológico costuma vulgarizar entre nós.
Também não quero restringir esta reflexão a aspectos puramente políticos, mas alertar que toda organização humana constituída do modelo hierárquico de poder, enfrenta a confusão, e às vezes a má intenção, na validação de teorias de poder e de seu exercício.
No parágrafo único do Artigo 1 da Constituição do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, definiu-se que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição.”
A definição constitucional de poder e de seu exercício soa tão agradável aos audientes, mas a questão que surge inevitavelmente é sobre o motivo que a prática ou o exercício do poder tem causado tanto mal estar entre todos nós.
Nossa Constituição nos faz iguais perante a lei em conformidade com o descrito no Artigo 5, mas uma descoberta soberba do bom-mocismo brasileiro, por força de um tal sistema de coeficientes eleitorais, iguala um voto de um único eleitor no Acre a sete ou oito eleitores paulistas, se não errei no cálculo.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma solenemente que “A vontade do povo será a base da autoridade do governo;” mas este texto universal e taxativo, prescinde da definição sobre legitimidade e da configuração do que seja uma eleição. Vamos analisar um exemplo histórico. Hitler, o qual dificilmente poderíamos classificar como um legítimo democrata, no verdadeiro sentido da palavra, galgou o poder supremo através de “eleições legítimas.”
Portanto, aquela utopia democrática de poder emanado do povo, ainda hoje, se manifesta na forma de uma monarquia eletiva temporária na qual o povo só é consultado nos graves momentos sucessórios, ou no financiamento das “ideias faraônicas de líderes megalômanos.” Poder que emana do povo? Onde? Estamos novamente perplexos. Todo poder deve ser condutor de ações em benefício do povo, de todo o grupo, e não em proveito de um monarca divinizado, de oligarquias ou de castas de pseudo-líderes.
Aqueles que se revestem do “poder que emana do povo,” deturpam e prostituem o sentido das palavras, que é o resultado do martelar constante da doutrinação política ou ideológica, e até mesmo religiosa, utilizando propaganda subliminar que, com o uso de uma dezena de fórmulas e expressões repetidas infinitamente, formam a “opinião” de uma nação e de um povo, e manipulam suas mentes.
Seriam motivadas por interesses sociais, públicos e coletivos, as batalhas antropofágicas entre diferentes grupos que sempre disputam o “poder que emana do povo,” principalmente em períodos de eleição e escolha dos “líderes”?
Esse notório mal estar sentido na observação da forma como se exerce o poder, certamente é resultado do egocentrismo, da visão restrita e limitada, da arrogância, da intransigência e da corrupção daqueles que se “agarram” ao poder.
O poder não é corruptor, mas a degenerescência fétida de indivíduos sem valores fundamentais contamina esta e outras instituições da sociedade humana.
O poder, como outros aspectos da vida humana, não deve ser a causa, mas o resultado de um padrão de conduta individual do ser humano.
Marcos Antonio Alonso é paulista, casado, 55 anos, formado em Administração de Empresas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná, MBA em Marketing for Business Advancement pela Universidade Federal do Paraná, MBA em Negócios Financeiros pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Paraná e é formado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Unificação.