João Batista

Malaquias, o profeta do Velho Testamento, predisse o retorno de Elias antes do advento do Messias: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (4:5). Elias tinha derrotado todos os falsos profetas em sua grande luta em nome de Yahweh no Monte Carmelo. 44 Sua missão tinha sido subjugar Satanás (manifestado no culto silencioso de Baal) e expulsar o mal de Israel para sempre. Mas depois de sua morte, os israelitas reuniram-se com Satanás para adorar ídolos. Portanto, a obra de Elias tinha que ser refeita. Para preparar para o Messias, outro campeão espiritual como Elias era necessário, como Malaquias profetizou. Assim, a esperança escatológica frequentemente incluía um retorno de Elias antes da chegada do Messias. 45

De acordo com as tradições Sinópticas, Jesus pensava sobre João Batista como o Elias esperado. Lucas relata que um anjo disse ao pai de João, Zacarias, que seu filho seria ungido com “o espírito e poder de Elias … para preparar ao Senhor um povo bem disposto” (1:16, 17). 46

O Velho Testamento registra como Deus nomeou cuidadosamente pessoas especiais para pavimentarem o caminho para a vinda do Messias. Patriarcas, juízes, reis e profetas exortaram, guiaram e profetizaram – tudo para este fim. João Batista, o Novo Testamento declara, foi escolhido para ser o último e maior destes precursores messiânicos. Sua tarefa era ler os sinais do tempo, anunciar a iminência do reino de Deus e indicar o Messias prometido. Tudo na vida de João foi desenhado para prepará-lo para esta única missão. Para este propósito ele se retirou para o deserto judeu, praticou uma vida ascética, se vestiu como o antigo profeta Elias e pregou a necessidade de arrependimento nacional. 47

Naturalmente as pessoas ficaram tão impressionadas com a mensagem dinâmica de João sobre a vinda da era messiânica que algumas imaginavam se ele mesmo seria o Cristo. Quando seus discípulos e outros ouvintes interessados perguntaram se ele era o Messias, João respondeu, “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Lucas 3:15, 16). Uma vez que Jesus começou a pregar sobre a proximidade do reino de Deus, e alguns estavam dizendo que ele era o Messias, certos fariseus vieram até Jesus para saber onde estava Elias. Jesus respondeu que João Batista era Elias (Mateus 17:10-13). Entretanto, no Quarto Evangelho, quando sacerdotes e levitas vieram até João questionando se ele era Elias, o Batista nega este papel (João 1:19-21).

O Princípio Divino descreve João Batista como a figura central para restaurar o fundamento de fé no curso mundial de restauração. Deus esperava que ele tornasse reto o caminho para o Messias, para continuar e completar a missão de Elias de separar Israel de Satanás. Por causa de sua ardente pregação, João se tornou extremamente popular na Palestina. Sua voz carregava muito mais autoridade do que a de Jesus que era somente um humilde carpinteiro e em grande parte desconhecido fora das pequenas cidades próximas ao Mar da Galileia. A maioria dos judeus poderia ter aceitado Jesus como o Messias se João tivesse testificado em seu favor. Depois que João batizou Jesus, ele deveria ter se unido a ele, se tornado seu ardente discípulo e atraído outros para apoiar o movimento messiânico de Jesus.

De acordo com Lucas, quando João foi aprisionado por Herodes Antipas como um agitador político, ele enviou dois de seus discípulos para perguntar para Jesus se ele era o Messias. Jesus disse para os mensageiros relatarem para seu mestre o que eles tinham ouvido e visto de suas atividades. Jesus acrescentou de forma aguda, “E bem-aventurado é aquele que em mim não se escandalizar!” Então depois de elogiar o Batista para uma multidão de seus próprios apoiadores, Jesus declarou, “E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.” (Lucas 7:28)

O que o levou a rebaixar João publicamente para uma posição abaixo dos mais baixos no reino de Deus? Em termos de sua missão, João era o profeta hebreu final, pois ele tinha sido especificamente escolhido para dar testemunho direto sobre o Messias. Neste sentido, João era o maior entre aqueles que nasceram de mulheres. No entanto, ao se recusar a dar apoio incondicional ao Messias, João tinha sido reduzido a uma insignificância real. Aqui Jesus revela como ele se ofendeu pela hesitação, dúvidas e indecisão do Batista.

Se João tivesse seguido Jesus depois de batizá-lo e o apoiado com ardor suficiente, toda a nação de Israel poderia ter se voltado para Jesus. Que impacto suas forças combinadas teriam tido! Mas João, o principal precursor de Jesus, falhou em sua missão dada por Deus de preparar Israel para seu Messias. Ao invés de dar testemunho direto sobre a posição de Messias de Jesus, o Batista de fato tornou mais difícil para o povo aceitar Jesus.

Uma contribuição distinta da teologia da Unificação é sua interpretação radical do papel de João Batista. Tradicionalmente, os cristãos têm louvado ele como o precursor fiel e o chamado de santo. Pela primeira vez se torna claro que João provou ser “uma ofensa” para Jesus, um obstáculo no caminho da realização do reino. No entanto, esta nova interpretação de João Batista parece ser cada vez mais validada pelo estudo bíblico.

Por exemplo, o Novo Testamento sugere várias críticas sobre Jesus que se originaram entre os seguidores de João:

1) que Jesus era inferior a João porque ele se submeteu ao batismo dele;

2) que a conduta de Jesus não era tão rígida religiosamente como a de João;

3) que Jesus começou como um discípulo de João Batista, tomando emprestado a prática do batismo e copiando a mensagem de João.

Até certa extensão todos os Evangelhos tentam de várias formas subordinar João e Jesus, mas o Quarto Evangelho é especificamente anti-Batista. Isso demonstra conclusivamente que os inimigos do Cristianismo encontraram em João Batista 48 uma poderosa arma para se voltar contra Jesus.

No Quarto Evangelho, João Batista é reduzido a uma mera voz, cuja única função era proclamar Jesus como o Salvador do mundo. Uma vez que João Batista tinha anunciado a autoridade messiânica de Jesus, seu trabalho divinamente indicado estava finalizado. O Quarto Evangelho omite a história do batismo de Jesus e descreve o rito de João como um rito apenas de água, ao invés do espírito. João Batista saudou Jesus como o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. E que os discípulos de João se juntaram a Jesus. O Quarto Evangelho corrige o relato Sinóptico que Jesus começou a pregar após a prisão de João, como se Jesus fosse um discípulo levando a obra de João.

No Evangelho Joanino, nos é dito que Jesus estava pregando ao mesmo tempo que João Batista, e que Jesus atraia multidões maiores (3:22:26). Quanto à relação entre os dois homens, Jesus insiste que ele “vem de cima” enquanto João é somente um “filho da terra” falando sobre coisas terrenas (3:31). 49 Assim, se o Evangelho Joanino foi escrito entre 80-120 D. C., a pregação de João Batista e seus discípulos permaneceu um sério obstáculo para a atividade missionária cristã quase um século após a morte de ambos João e Jesus. De fato, uma seita Batista continua no Iraque até os dias atuais. Assim, o estudo contemporâneo tende a documentar a visão do Princípio Divino que a obra de João Batista estava no caminho da realização de Jesus de sua missão messiânica.


44 I Reis 18:16-40.

45 Visões rabínicas do retorno de Elias estão descritas em J. Klausner, The Messianic Idea in Israel (1955), pp. 451-457 e no artigo “Elijah” na Encyclopedia Judaica (1971), vol. V1, pp. 635-639.

46 Entre os escritores Sinópticos, Lucas somente conta histórias da infância sobre João. Estudiosos acreditam que esta se originaram em uma seita Judaica Batista que podia ter considerado João como sendo o Messias (W.R. Farmer, “John the Baptist,” Interpreter’s Dictionary of the Bible, vol. 11, p. 956).

47 Para uma visão estudada contemporânea sobre João, ver G. Bornkamm, Jesus of Nazareth, pp.. 44-52. R. Grant, A Historical Introduction to the New Testament (1972), pp. 309-313, aponta as semelhanças entre João e a comunidade Qumrã que produziu os manuscritos do Mar Morto. Também W. H. Brownlee, “John the Baptist in the New Light of Ancient Scrolls” em K. Stendahl, ed., The Scrolls and the New Testament (1957), pp. 33-53.

48 E. C. Colwell, John Defends the Gospel (1936), pp. 31-39. Ver também R. E. Brown, The Gospel According to John (1966), vol. I., introduction, pp – LXVII-LXX, a Catholic view.

49 Bultmann observa que João 3:22-30 tem o propósito negativo de excluir possível rivalidade entre o Batista e Jesus, reflete a hostilidade continua entre os Cristãos e as seitas Batistas e ilustra a disputa sobre como o batismo de João está relacionado com o ritual Cristão. (The Gospel of John, 1971, pp. 167-175).