Onde Ele Virá?
Até agora, temos indicado como convergem a teologia da Unificação e outras tendências do pensamento cristão contemporâneo. O próximo passo parece bastante surpreendente. O Princípio Divino sugere que o instrumento humano escolhido por Deus para a criação da era vindoura aparecerá na Coreia. Esta afirmação pode ser difícil de aceitar no primeiro momento, e tem sido repetidamente ridicularizada. O Princípio Divino não é simplesmente um produto do nacionalismo coreano, como os críticos têm alegado?
Para entender esta parte da teologia da Unificação, pode ser útil recordar alguns ensinamentos bíblicos básicos. Primeiro, Deus é criador de todos os homens, assim, nenhuma nação é automaticamente indigna de ser Seu agente escolhido. Segundo, desde a época de São Paulo, os cristãos geralmente se recusavam a restringir o povo escolhido aos judeus. Terceiro, se Deus é soberano, então Ele é livre para fazer o que bem entender, a fim de realizar Sua vontade. Barth especialmente nos lembrou desta liberdade divina. Todas estas afirmações Judeu-Cristãs fundamentais devem provar que não é intrinsicamente impossível para Deus escolher um coreano.
Agora, se Deus tem liberdade para selecionar quem Ele desejar como a figura central na era vindoura, podemos encontrar algumas dicas para Sua possível escolha? Por muitos séculos a civilização esteve se movendo na direção do ocidente: Os antigos impérios do Oriente Médio foram substituídos pelo Império Romano. Por sua vez, isto foi sucedido pelos grandes poderes da Europa ocidental que, com o tempo, se moveu para a posição dominante, agora ostentada pelos Estados Unidos. Se este fluxo da civilização continua, o próximo ponto focal deveria estar em algum lugar na Ásia oriental. Essa conclusão não parece irracional. Consequentemente, estudiosos de tendências políticas atualmente predizem com frequência que no futuro próximo Japão ou China poderia dominar muitos assuntos mundiais como os Estados Unidos têm feito desde 1917. Mas a teologia da Unificação indica que nem a China e nem o Japão tem o fundamento espiritual necessário para se tornar o novo Israel. Se Deus precisa de uma base cristã forte para um novo povo escolhido, essa qualificação entre os asiáticos pode ser encontrada somente na Coreia.36
Quais são as características especiais da Coreia que a tornam uma candidata principal para a eleição divina? O Princípio Divino defende esse caso principalmente sobre argumentos racionais. Historicamente, muitas nações têm reivindicado ser o povo eleito de Deus. Os japoneses acreditam que são descendentes da deusa sol. Os chineses dizem que sua nação está localizada no centro do universo. Os russos afirmam que Moscou está destinada a ser a Terceira Roma. Os alemães na Primeira Guerra Mundial costumavam cantar “Alemanha sobre todos,” porque o povo nórdico loiro de olhos azuis estava destinado a ser a raça mestre.
O mesmo é verdadeiro sobre os egípcios, assírios, indianos, gregos, ingleses, franceses, americanos e outros. Assim, os coreanos não são diferentes dos muitos povos quando reivindicam que Deus os escolheu para serem Seus instrumentos especiais. Então, como a Coreia se assemelha ao antigo Israel que serviu Deus de uma forma única?
Como os hebreus bíblicos, a Coreia estabeleceu um fundamento em âmbito nacional para restauração através de indenização, ou seja, a Coreia tem conduzido o papel do servo sofredor de Deus. Porque ambos os países estão localizados em pontos de cruzamento geográfico, eles têm sofrido igualmente de agressores estrangeiros. Assim, o caráter coreano tem sido frequentemente testado e refinado no fogo de conquistas e perseguições estrangeiras. Como resultado, os coreanos se assemelham grandemente aos judeus bíblicos na profundidade de sua piedade nacional e sua vontade insuperável de sobreviver. Sem uma fé invencível em si mesmos e firme confiança nos apoios religiosos, os coreanos teriam se tornado um dos inúmeros povos “perdidos” da história. Quão frequentemente eles conheceram o que significa carregar uma cruz!
Na verdade, há inúmeras similaridades entre o espírito da nação coreana retratado na história clássica preparada pelo Abade Ilyon 37 e as interpretações da história hebraica fornecidas pelos cronistas reais e escritores bíblicos. Como os historiadores bíblicos, Ilyon compila os antigos contos populares de seu país e acrescenta a eles histórias memoráveis de seus reis, homens santos e heróis. Como eles, Ilyon interpreta o passado de sua nação a partir de uma perspectiva religiosa, enfatizando as maravilhas sobrenaturais de épocas anteriores. Para ele, como para os historiadores Yahwistas e Deuteronômicos, a piedade da nação é considerada a característica mais importante de sua vida. Na opinião de Ilyon, a história da Coreia deveria ser lembrada porque revela a constante interação da “história de salvação” sagrada e secular se assemelhando àquela encontrada nas Escrituras.
Além disso, exegetas escriturais como Filo, Orígenes e Agostinho notaram o significado místico de determinados números na teologia bíblica da história. 38 De especial destaque é o número 40, como o Princípio Divino indica: as chuvas que causaram o dilúvio no tempo de Noé duraram 40 dias; os hebreus passaram 40 anos no deserto; o cativeiro babilônico cobriu 40 anos; Jesus ficou 40 dias no deserto superando as tentações de Satanás. Então, o quarenta tem algo a ver com o plano bíblico da história de salvação. Para o Princípio Divino isto significa um período de indenização que é preparação para alguma grande missão ou bênção divina. Então é mera coincidência que a Coreia sofreu cerca de 40 anos de opressão japonesa como preparação espiritual para seu papel nos tempos modernos? Se os cristãos realmente acreditam que a Bíblia lança luz sobre a atividade redentora de Deus, então este estranho paralelo entre o antigo Israel e a moderna Coreia deve nos fazer ponderar. Não há uma possibilidade real que a Coreia pudesse fornecer “luz para os Gentios” em nosso tempo?
Em 1905, Ito Hirobumi do Japão e Wan-yong Lee, o Ministro da Educação coreano pró-japonês assinaram o Tratado Eul-sa que roubou da Coreia sua soberania e a tornou num protetorado nipônico. Em 1910 os japoneses anexaram a Coreia pela força. A rainha Min foi assassinada e todos os patriotas proeminentes foram presos ou assassinados; contudo, os coreanos nunca se submeteram à perda de suas tradicionais liberdades políticas. Em março de 1919 no Pagoda Park em Seul um grupo de coreanos distintos convocou publicamente a independência do Japão, mas o movimento de liberdade nacional foi brutalmente esmagado pelas autoridades militares de ocupação. Muitos combatentes coreanos pela liberdade fugiram para a Manchúria onde continuaram a agitar pela independência. Para contrariar este movimento popular clandestino dentro do país e a influência dos refugiados no exterior, os japoneses instituíram um sangrento reinado de terror e uma política colonial repressiva que continuou até a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. 39
Embora os notáveis líderes budistas e os porta-vozes da religião nativa Chondogyo 40 apoiassem o movimento de independência de 1919, os cristãos frequentemente suportaram o peso da perseguição japonesa porque os missionários conseguiram divulgar a causa coreana na América e Grã-Bretanha. Portanto, não é exagero comparar os 40 anos de perseguição cristã (1905-45) aos 400 anos que os hebreus sofreram na escravidão egípcia ou os 400 anos que os cristãos foram esporadicamente perseguidos pela Roma pagã. A este respeito, seguramente a Coreia poderia ser chamada de “terceiro Israel.”
De acordo com o Princípio Divino, o agente especial de Deus conduzindo Sua providência de redenção em nosso tempo deve estar na linha de frente 41 entre as forças de Deus e o poder armado de Seus adversários satânicos.
Repetidamente, o primeiro Israel enfrentou inimigos de Deus: Egito, Assíria, Babilônia e o mundo pagão Greco-Romano. Desde a Segunda Guerra Mundial, a Coreia da mesma forma foi tragicamente dividida pelas forças rivais da tirania comunista e os defensores da democracia. Consequentemente, o Princípio Divino se refere à Coreia como uma vítima sacrifical oferecida no altar de Deus da restauração universal.
Essa ideia pode ser extremamente difícil de aceitar para uma pessoa não coreana. Por que tão arbitrariamente localizar a ação redentora de Deus? O que torna a Coreia mais valiosa aos olhos de Deus do que outras vítimas da tirania Marxista como China, Tibete, Alemanha, Hungria, Vietnã ou Camboja?
Dois comentários devem ser feitos em relação a essas questões. Primeiro, o Princípio Divino não promulga a ideia de uma nação superior ou uma raça principal. Todos os homens são iguais aos olhos de Deus porque todos são criados para serem Seus filhos. Assim, a Coreia atualmente e o antigo Israel não ostentam uma posição intrinsicamente mais elevada. Israel no passado e a Coreia em nosso tempo são simplesmente eleitas de forma funcional. Elas são exaltadas ou colocadas separadas das outras a fim de servir toda a humanidade.
Segundo, o conceito do Princípio Divino da nação escolhida é muito diferente das variedades comuns de nacionalismo. Comumente, os nacionalistas concedem suprema e inquestionável lealdade a seus países, certo ou errado. Mas todas as nações, mesmo o povo escolhido, devem estar sujeitas à soberania mais elevada de Deus. Em nenhum lugar a Coreia tem o direito divino para governar o mundo em um sentido político, econômico ou cultural.
A fim de realizar uma missão especial na providência de Deus de restauração universal, uma nação deve trilhar um caminho de sacrifício marcado com sangue, suor e lágrimas, isto é, um povo escolhido deve descobrir o coração triste de Deus como fez Israel. Deus tem sofrido profundamente, com o coração partido pela obstinação de Seus filhos, de modo que qualquer nação que pretenda servir a Ele, deve compreender que a luta contra Satanás resulta inevitavelmente em um curso histórico de miséria incalculável. Somente trilhando o caminho de aflição, como o próprio Deus faz, um povo pode compreender o coração de Deus, e assim, estar preparado para servir como Seu instrumento especial.
Como pergunta o Princípio Divino, podemos esperar ser sempre favorecidos com boa fortuna se nosso propósito é manifestar o coração doloroso de Deus? Como uma nação afluente, confortável e complacente pode estar ciente do que significa ser o Criador de um mundo ingrato e rebelde?
Não obstante, o sacrifício por si mesmo não é necessariamente virtuoso. Muitas vezes a derrota somente pode derrubar a vontade de uma nação e levar ao desespero. Como os hebreus bíblicos, os coreanos foram invadidos por muitos agressores, mas eles sobreviveram por causa de sua indomável fé religiosa. No espírito de Jó, eles confiaram na justiça e bondade essencial de Deus a despeito de desgraças quase intoleráveis.
As características fundamentais da piedade durante os 4500 anos da Coreia também poderiam ser de valor inestimável se Deus decidisse escolher a Coreia para uma missão dispensacional. Os coreanos nunca se contentaram em restringir sua fé a uma crença animista na divindade manifestada na natureza. Desde o início, os coreanos têm enfatizado a preocupação sobre o mundo espiritual para o bem-estar prático do homem. Portanto, era fácil para os coreanos apreciarem os ensinamentos éticos do Confucionismo porque eles já valorizavam as nobres qualidades humanas como lealdade, piedade filial e retidão. Ao mesmo tempo, os antigos coreanos estavam conscientes de suas obrigações espirituais com o Deus transcendente. Assim, os missionários budistas foram ansiosamente recebidos quando ensinaram o valor da meditação, tranquilidade e serenidade. O teísmo xamânico, a ética social confucionista e a espiritualidade budista em conjunto forneceram solo fértil para o plantio do Evangelho no século passado. Consequentemente, muitos missionários Protestantes e Católicos têm elogiado os coreanos por seu caloroso e fervoroso Cristianismo.
Além destas virtudes bem conhecidas do caráter coreano, o Princípio Divino nos lembra que coreanos espiritualmente dotados têm repetidamente recebido mensagens do alto que sua nação teria um papel único na realização do plano de Deus para a humanidade. Durante todas as suas amargas dificuldades políticas, o povo comum coreano era consolado pelas esperanças messiânicas. Quão natural foi então para o movimento de Unificação surgir na nação tão cuidadosamente preparada para seus ensinamentos.
36 As Filipinas é a única outra nação cristã na Ásia oriental. Entretanto, a religião desse país aparentemente é em grande parte uma importação espanhola (e americana).
37 The Samguk Yusa (E.1 1972).
38 Cf. V. E. Hopper, Medieval Number Symbolism (1969), pp. 69-88.
39 Cf. EA. McKenzie, Korea’s Fight for Freedom (1920).
40 B. Weems, Reform, Rebellion and the Heavenly Way (1966).
41 Divine Principle, pp. 523-525.