Visão da Teologia da Unificação
Como o Unificacionista entende a ressurreição de Jesus? Primeiro de tudo, o Princípio Divino afirma com ênfase a realidade da ressurreição por três razões. Historicamente, a ressurreição era necessária a fim de que os discípulos se recuperassem da tragédia desmoralizante da crucifixão. Como o teólogo bíblico britânico Alan Richardson disse, a missão de Jesus aparentemente acabou em total fracasso e desastre. Portanto, todos os seus discípulos fugiram para a Galileia (Marcos 14:50). No entanto, quando estes seguidores desencorajados começaram a ser convencidos que Jesus havia ressuscitado, sua fé repentinamente reavivou. Eles voltaram a se reunir e celebraram a morte de Jesus como uma ocasião de alegria e ação de graças. 92 Historicamente, a experiência dos primeiros cristãos da ressurreição de Jesus explica de forma razoável sua mudança radical de humor, do desespero para a esperança radiante.
Teologicamente, a ressurreição é importante como um testemunho sobre a natureza bipolar do homem. Toda pessoa consiste de carne mortal e alma imortal. Os inimigos de Jesus não puderam destruir seu espírito ao condená-lo como um blasfemador e herege. Nem as aparições da ressurreição foram simplesmente inventadas pela igreja primitiva para iludir um povo crédulo para aceitar uma nova fé. Jesus foi realmente vitorioso sobre a morte.
Além disso, providencialmente a ressurreição era mais necessária. Sendo que a missão de Jesus era a forma de Deus realizar Seu ideal original de criação, Ele tinha que superar o terrível revés de Seu plano causado pela rejeição de Seu filho. Como Deus poderia revitalizar o movimento messiânico disperso e aparentemente desacreditado, e utilizá-lo para Suas posteriores intenções primárias para o homem? O reaparecimento de Jesus Cristo foi a forma de Deus para inspirar novamente os discípulos e reascender o entusiasmo deles. Toda a comunidade cristã estava preparada para receber o derramamento do Espírito no Pentecostes. Por causa da ressurreição, os cristãos judeus puderam pregar para seus compatriotas: “Este Jesus Deus ressuscitou, como todos nós somos testemunhas… Portanto, que a casa de Israel reconheça claramente que o mesmo Jesus a quem vocês crucificaram, Deus fez Senhor e Cristo” (Atos 2:32, 36).
A seguir, devemos olhar para a interpretação do Princípio Divino da maneira da ressurreição. Como a maioria dos Protestantes liberais, os Unificacionistas acreditam que a ressurreição de Jesus foi espiritual, e não física. Uma ressurreição da carne contradiz nossa visão científica moderna do mundo. Bultmann, entre outros, insistia que se queremos tornar o Cristianismo credível, devemos desmistificar antigas doutrinas como a ressurreição carnal de Jesus e a ascensão física ao céu. Brunner, ao contrário, insiste sobre a ressurreição do corpo, sim; mas ressurreição da carne, não! 93
Paulo, possivelmente o único membro bem educado da comunidade apostólica, sugere que não é necessário acreditar na ressurreição corpórea de Jesus. Nas primeiras epístolas Paulinas, a esperança cristã é largamente interpretada em termos de Apocalipticismo judeu que inclui a crença em uma ressurreição física (I Tess. caps. 4 e 5). Mais tarde Paulo modificou suas visões: “Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus” (I Cor. 15:50). A experiência de Paulo do Jesus ressuscitado foi um encontro com o Cristo glorificado, uma realidade espiritual.
Há também evidências nos Evangelhos que o corpo ressuscitado de Jesus era muito diferente de seu corpo terreno. Quando Jesus apareceu repentinamente aos discípulos em sua sala de hóspedes, eles pensaram que tinham visto um fantasma (Lucas 24:37). De forma semelhante, os discípulos que encontraram Jesus ressuscitado na estrada de Emaús não o reconheceram até que ele comeu com eles e seus olhos foram abertos, e ele imediatamente desapareceu (Lucas 24: 15-31). Estes dois incidentes demonstram que o corpo do Jesus ressuscitado era muito diferente de seu corpo terreno.
Contudo, todos os quatro Evangelhos contêm histórias da tumba vazia. Estas não implicam que Jesus foi ressuscitado corporalmente? Aqueles que insistem na ressurreição física confiam pesadamente na tradição da tumba vazia.
Muitos estudiosos do Novo Testamento consideram a lenda de uma tumba vazia. Como um exemplo, vamos olhar para o estudo feito por Guignebert: 94 Ele diz que as fontes do Novo Testamento são “um mosaico artificialmente composto de fragmentos contraditórios.” 95
Primeiro de tudo, os Evangelhos apresentam evidências contraditórias sobre o 96 sepultamento de Jesus e a descoberta da tumba aberta. Mateus, Lucas, Atos e João acrescentam detalhes ao relato original de Marcos, mas eles se contradizem em muitas formas importantes. Quatro exemplos devem ser suficientes. Quantas mulheres foram até a tumba de Jesus e a encontraram vazia? Uma, de acordo com João (20:1). Duas, de acordo com Mateus (28:1). Três de acordo com Marcos (16:1). Três mulheres mais outros discípulos, de acordo com Lucas (24:10). Quem embalsamou o corpo de Jesus? José e Nicodemos, diz o Quarto Evangelho (19:38-40). Mas de acordo com a tradição Sinóptica, as mulheres que foram à tumba para esse propósito (Lucas 24:1). A tumba era guardada? Mateus relata que os sumo sacerdotes e os anciãos colocaram soldados no sepulcro. Mas Marcos e Lucas carecem deste detalhe importante. O que aconteceu quando as mulheres vieram para o sepulcro? Mateus somente registra um grande terremoto ocorrendo (28:1-10). Se este evento surpreendente aconteceu, por que nenhum outro evangelista observa este fato? A partir destas discrepâncias, devemos concluir que a história original de Marcos foi grandemente embelezada pelos evangelistas posteriores.
Felizmente, podemos encontrar uma tradição importante sobre a ressurreição de Jesus nas cartas de Paulo que estão vinte anos mais próximas ao ministério terreno de Jesus (I Cor. 15:3.). Paulo relata dois fatos muito significantes: uma lista de aparições que ele reivindica ter recebido da comunidade apostólica original, e que cada aparição era como sua própria experiência mística na estrada de Damasco. Isso significa que as primeiras aparições da ressurreição eram do Jesus espiritual. Ainda mais importante, Paulo em nenhum momento se refere à tumba vazia. Isto não sugere que eu seu tempo – vinte anos antes de Marcos – os cristãos não acreditavam que a tumba de Jesus foi encontrada vazia? Portanto, Guignebert e outros concluem que as histórias da tumba eram lendas adicionadas mais tarde pelos apologistas cristãos a fim de demonstrar a realidade da ressureição de Jesus. Harnack, por exemplo, sustentava que a “descoberta” da tumba aberta complicou e confundiu a tradição, e que Paulo não sabia nada dessa história. 97
Jesus morreu na cruz e foi sepultado. Isso é tudo que podemos saber? Guignebert acredita que o corpo de Jesus foi tirado da cruz por seus executores e que depois recebeu algum tipo de sepultamento.
Muito provavelmente o corpo foi jogado em um poço para criminosos executados. 98 Se o sepulcro de Jesus fosse conhecido, haveria peregrinações regulares para esse lugar. Mas o local do Santo Sepulcro não foi localizado até o tempo de Constantino, quando ele o tornou “disponível para veneração” em 326 D. C. 99 Em qualquer caso, a fé na Páscoa era baseada nas várias aparições do Jesus ressuscitado, e não na tumba vazia. 100
Von Campenhausen, o historiador da igreja Heidelberg, é um dos mais recentes defensores da historicidade da tumba aberta. 101 Contudo, ele não tenta utilizar isto como prova para a ressurreição física de Jesus. Por que então a tumba estava vazia? Não sabemos, admite von Campenhausen. Em qualquer caso, uma variedade de explicações tem sido oferecida. Duas antigas opiniões judaicas sobreviveram. A tumba estava vazia porque os discípulos removeram secretamente o corpo antes das mulheres chegarem. 102 Ou os agricultores o removeram porque tinham medo que o túmulo de um profeta controvérso atrairia muitos visitantes, e eles pisoteariam seus vegetais. 103 Outra possibilidade é que José de Arimateia tivesse dúvidas sobre ter o cadáver de um criminoso condenado no túmulo de sua família, e assim removeu o corpo sem notificar os discípulos. 104 Possivelmente a tumba foi quebrada e saqueada por ladrões de sepulturas que eram muitos naquele tempo.
Ou talvez Jesus foi removido da cruz antes da morte. Esta ideia estranha assume três formas. Cristãos Docéticos acreditavam que sendo que Jesus era divino, ele não podia sofrer ou morrer. Assim, ele somente parecia ter sido crucificado ou alguém tomou seu lugar na cruz: por exemplo, Simão de Cirene. 105 Esta visão era antiga e se espalhou para a Arábia, onde Maomé parecia ter acreditado nela. 106 Uma segunda visão é que Jesus era um essênio, a quem foi dada uma droga que o permitia fingir estar morto. Seus companheiros essênios o tiraram da cruz e o esconderam em um de seus monastérios, onde ele viveu secretamente até sua morte natural muitos anos mais tarde. 107 A terceira opinião, também mantida por alguns muçulmanos, é que Jesus não morreu na cruz, foi gradualmente restaurada sua saúde, e então viajou para a Índia onde ele foi reverenciado como um profeta até sua morte em uma idade avançada. Mesmo atualmente muçulmanos indianos podem demonstrar o santuário em Caxemira no qual o corpo do santo Jesus ainda repousa. 108 Pode parecer que gastamos muito tempo no problema da tumba vazia. Entretanto, se insistimos na natureza espiritual da ressurreição, então inevitavelmente perguntaremos por que é dito que a sepultura de Jesus estava vazia. Por esta razão, somos forçados a examinar em detalhes as antigas lendas e visões contemporâneas. Deveria agora estar muito claro que as histórias da tumba vazia não provam a ressurreição física de Jesus.
De acordo com a teologia da Unificação, os discípulos não viram um fantasma comum. O que eles experimentaram era o Messias que tinha se elevado acima da vergonha de uma condenação como blasfemador e morte como criminoso. Assim, os Unificacionistas reivindicam que, por causa da ressurreição, a missão de Jesus não acabou em falha. Certamente, o corpo físico de Jesus foi completamente esmagado. Mas seu sentido de missão permaneceu inabalável. Quando ele despertou no mundo espiritual, a primeira preocupação de Jesus era ressuscitar a fé de seus discípulos, por isso ele estava ansioso para se manifestar para eles de alguma forma visível. Este é o motivo pelo qual Lucas escreveu que por quarenta dias Jesus permaneceu próximo a seus discípulos. Por causa da fé infalível de Jesus e na base de seu fundamento de quarenta dias, Deus pôde começar uma nova providência utilizando seus discípulos como instrumentos de Sua vontade para a redenção do homem. 109
92 A. Richardson, An Introduction to the Theology of the New Testament (1958), P. 190.
93 E. Brunner, Dogmatics, vol. 11, p. 372.
94 C. Guignebert, Jesus (1956), pp. 490-536.
95 Ibid., p. 490.
96 Marcos 15:42-47; Mateus 27: 57-61; Lucas 23:50-56; João 19:38-42; Atos 13:29.
97 A. Hamack, New Investigations of Apostolic History (1911) p. 112. Também H. Conzelmann, Outline of Theology of the New Testament (1969), p. 67.
98 Guignebert, op. cit., p. 500.
99 Eusebius, Life of Constantine 3:26 e Socrates’ Ecclesiastical History 1: 17.
100 E. Brunner conclui que o testemunho original sobre a ressurreição não continha qualquer referência à tumba vazia, mas estava somente preocupada com as aparições do Cristo ressuscitado (Dogmatics, vol. 11, p. 368).
101 H. von Campenhausen, “The Events of Easter and the Empty Tomb,” Tradition and Life in the Church (1968), pp. 42-89.
102 Também a visão do crítico bíblico alemão Heinrich Holtzmann (d. 1910), mas uma visão indiretamente contestada pelo Evangelho de Mateus.
103 Uma visão Judaica atacada por Tertuliano.
104 J. Klausner conjectura que José de Arimateia removeu secretamente o corpo de Jesus e o enterrou em uma sepulture desconhecida (Jesus of Nazareth. 1925, p. 357).
105 O cristão gnóstico Basilides ensina isto, de acordo com Irineu.
106 Cf . G. Parrinder, Jesus in the Qur’an (1977), pp. 108-113.
107 O problema com essa visão é que os ensinamentos e estilo de vida de Jesus são tão diferentes do ascetismo dos essênios que ele dificilmente seria aceito por eles.
108 Cf. H. A. R. Gibb e J. H. Kramers, eds., Shorter Encyclopedia of Islam (1953), p. 24.
109 Divine Principle (1973), p. 148.