Diversas Interpretações de Pecado

Para entendermos a doutrina cristã de pecado é importante olharmos para seu desenvolvimento histórico. Três definições clássicas de pecado foram produzidas na tradição judaico-cristã. Primeiro, pecado era interpretado como uma violação consciente das leis reveladas de Deus. Os homens pecam quando desobedecem aos mandamentos de Deus dados para Moisés, ou a nova Lei proclamada por Jesus. Segundo, o pecado tem sido explicado por Paulo e Agostinho como a natureza decaída comum do homem. Pecamos porque somos filhos concupiscentes de Adão e Eva rebeldes. Terceiro, durante a Reforma, pecado foi definido como um portão de infidelidade na medida em que carecemos de confiança em Deus.

A Realidade e Natureza de Deus

A teologia da Unificação afirma que Deus tem ambas as qualidades masculina e feminina baseado no fato universal da polaridade e no registro bíblico (Gen. 1:27). Esta crença faz o Princípio Divino muito diferente da maioria das interpretações convencionais da fé cristã. A teologia da Unificação começa com o fato da polaridade como a principal pista para o entendimento da natureza essencial de Deus. Por isso, ela não está primariamente interessada em defender a doutrina trinitária das crenças do século IV. Nem se assemelha ao Protestantismo liberal comum que simplesmente afirma a Paternidade de Deus, a irmandade do homem e a liderança de Jesus.

No século XIX, a crença no Deus Pai-Mãe suscitou uma grande quantia de críticas. Quando Ann Lee, a fundadora dos Shakers, e Mary Baker Eddy, a descobridora da Ciência Cristã, ensinavam que Deus tinha ambas as qualidades masculina e feminina, elas eram frequentemente denunciadas como hereges. Entretanto, desde o nascimento do movimento de liberação das mulheres, o clima intelectual mudou bastante. Muitas pessoas agora reconhecem a natureza restritiva de um conceito exclusivamente masculino da deidade. Como insiste a teóloga Mary Daly, o teísmo moderno deve ir Além do Deus Pai. Possivelmente a ênfase contemporânea sobre os valores únicos da “mística feminina” nos ajudará a apreciarmos a polaridade na Divindade.

Mas que evidência há para esta ideia? Que motivos existem para abandonar a visão Cristã Tradicional que Deus é masculino ou a noção muito comum que Deus transcende masculinidade e feminilidade. 2

Vivendo em Dois Mundos

Todas as religiões ensinam que o homem é um habitante de dois mundos. Além do mundo visível aberto aos nossos sentidos físicos, existe uma realidade espiritual. Este mundo não terrestre pode ser sentido e percebido, o que significa que ele é tão real e importante quanto a realidade da experiência sensorial comum. 51 Como muitos estudos objetivos têm demonstrado, a existência desta dimensão espiritual pode ser demonstrada a partir de evidências parapsicológicas, as quais parecem indicar uma interação regular entre os mundos físico e extra-sensorial. Por esta razão o Princípio Divino compara esse relacionamento com a polaridade de mente e corpo. 52 Se a mente é projetada para direcionar e controlar o corpo, o mundo espiritual está destinado a utilizar o mundo físico para alcançar seus mais elevados objetivos. Como o homem não pode realizar suas plenas potencialidades sem se unir com Deus, o mundo visível não pode realizar seu verdadeiro valor a menos que ele forme um relacionamento contínuo positivo com o mundo espiritual.

O Ensinamento do Novo Testamento Sobre Pecado

A. Nos Evangelhos Sinópticos:

Em Marcos, Mateus, Lucas e Atos, pecado se refere à fonte das más ações ao invés de atos específicos. Os homens são uma ninhada de serpentes venenosas cujos corações estão cheios com o mal (Mateus 12:34). Marcos 7:21 lista doze males (começando com fornicação) que se originam no coração e tornam o homem imundo. Pecado implica o domínio de Satanás sobre o homem. Os Pergaminhos do Mar Morto ensinam que os homens estão sujeitos às regras de Belial, e os Sinóticos interpretam a missão de Jesus como uma confrontação com o poder de Satanás. Pedro descreve o ministério de Jesus como “fazer o bem e curar todos aqueles que tinham caído sob o poder do diabo...” (Atos 10:38). Paulo pregou para os gentios para que eles pudessem se converter “do domínio de Satanás para Deus, e receber... uma parte da herança dos santificados…” (Atos 26:18).

Visões Modernas da Queda

Tradicionalmente, a doutrina cristã do homem decaído tem sido conectada com a história do Gênesis de Adão e Eva. Entretanto, a confiabilidade histórica do relato da Queda tem sido cada vez mais questionada. Aqueles que negam a validade da narrativa do Éden fazem isto por duas razões. Por um lado, é difícil conciliar o relato de Adão e Eva com as teorias científicas modernas. Por outro lado, estudiosos bíblicos tendem a lançar dúvidas sobre o relato do Gênesis ao interpretá-lo à luz das antigas lendas babilônicas e canaanitas. 2

Significado da Família

No século XX, doutrinas Protestantes sobre o homem têm enfatizado o relacionamento e responsabilidade humana. Um indivíduo se torna uma pessoa madura através de suas conexões com os outros. Ninguém pode realmente existir por si mesmo ou para si mesmo. Os homens são criaturas sociais. Eles nascem em uma sociedade, e são moldados por seu grupo. A teologia do processo e a teologia da libertação enfatizam esta dimensão social do homem. Ambas se opõem a uma interpretação puramente individualista da natureza humana. Quem somos e o que fazemos depende do nosso envolvimento na vida e das atividades em grupo.

A neo-ortodoxia enfatiza a natureza responsável do homem. Temos obrigações para com os outros e ainda mais significantemente com Deus. Quando Bonhoeffer estava na prisão esperando a execução por suas atividades antinazistas, ele compôs um poema sobre a doutrina cristã do homem. “Quem eu sou?” ele perguntou. Ele era o alegado criminoso que permaneceu firme a despeito do confinamento? Ele era aquele que “conversava livremente” com seus captores, como seus carcereiros pensavam? Ou ele era uma pessoa inquieta, irritada e cansada que ele pensava ser? Em última análise, nenhuma destas coisas. Mais do que qualquer outra coisa, ele pertencia a Deus. “Quem quer que eu seja, eu sou teu, Ó Deus,” ele confessou. 40 Um cristão reconhece que ele deve lealdade a Deus. Sendo que Deus criou o homem, o homem é moralmente obrigado a servi-Lo.

A Realidade de Satanás

Tradicionalmente, teólogos cristãos têm utilizado o conceito de Satanás para explicar a Queda do homem. Entretanto, desde a Era da Razão, mais e mais cristãos têm tentado descrever o pecado original e a natureza decaída da humanidade sem referência ao trabalho de um poder demoníaco pessoal. Por exemplo, Satanás não desempenha quase nenhum papel nas teologias de Schleiermacher, Ritschl, Barth, Brunner, Tillich, Reinhold Niebuhr, Teilhard de Chardin ou dos teólogos modernos. Uma notável exceção é encontrada no pensamento do teólogo alemão contemporâneo Helmut Thielicke. 14

Agostinho sobre Pecado Original

Santo Agostinho assumiu as referências de Paulo sobre pecado, as desenvolveu e sistematizou. Assim, ele é frequentemente elogiado ou culpado como o pai do conceito de pecado original. Sua teologia moral foi grandemente influenciada por suas controvérsias com dois grupos rivais, os Pelagianos e os seguidores de Mani. Os seguidores de Pelágio ensinavam que Deus criou o homem bom; e que se caímos, fizemos isso por causa de nossos pecados pessoais. Crianças nascem sem pecado, e como Adão, elas caem deste estado original de inocência por causa de seus atos voluntários de maldade. Portanto, não há nenhum pecado original que corrompeu a natureza humana e nenhum pecado que seja herdado de nossos pais.

Teologia da Unificação sobre a Queda

O Gênesis descreve o estado ideal do homem como um tempo de inocência despreocupada, paz, harmonia e alegria. Este estado original de Adão e Eva era derivado de sua íntima amizade com Javé. Para indicar quão agradável era a condição humana primitiva, o autor bíblico comparou a situação do homem com a vida em um parque privado reservado para o relaxamento dos imperadores da Pérsia, ou seja, o jardim do Éden era um paraíso feito por Deus para o relaxamento e satisfação Dele mesmo e Seus convidados reais. Então o homem foi criado e colocado no próprio parque privado de Deus como um sinal da posição especial do homem. Como o rei dos reis persas permitiam somente que seus cortesãos favoritos passeassem por seus magníficos jardins imperiais, assim Adão e Eva receberam o raro privilégio de desfrutar do próprio parque privado de Deus. O que o cronista Javenista estava indicando é a vasta diferença entre o estado original do homem e sua atual condição. Utilizando imagens familiares, ele contrastou a facilidade, beleza e deleite da vida de um nobre do Oriente Médio com a existência dura e problemática de um típico camponês beduíno. Essa, o Gênesis afirma, é a diferença entre a vida do homem antes e depois da Queda. 15

A Parceria de Deus e o Homem

Na Bíblia, o processo dar e receber é ilustrado pela noção de uma aliança divino-humano. Deus fez alianças com Noé, Abraão e Moisés. Os cristãos descrevem seus escritos sagrados como o Novo Testamento, a nova aliança, em oposição à velha aliança de Deus com os filhos de Israel. A ideia de uma aliança é uma das doutrinas essenciais das Escrituras. 34

O que significa ratificar a aliança? Uma aliança é frequentemente um acordo político ou militar entre duas nações. Cada lado aceita determinadas tarefas em troca pela promessa de determinados benefícios. Assim, quando esta “aliança” do mundo secular foi aplicada à religião, ela se referia ao relacionamento dar e receber entre o homem e Deus. Cada parte concordava em aceitar algumas responsabilidades definidas pelo benefício de receber algumas vantagens específicas.