Cristologia

A Pessoa e Obra de Jesus

Cristologia trata com o significado da pessoa e da obra de Jesus. Assim, ela tem duas partes. Primeiro, ela explica quem era Jesus. Segundo, ela relaciona o que ele fez pela humanidade. Interpretações da natureza real e autoridade de Jesus começaram quando ele foi aclamado por Pedro como o Messias e alcançou um clímax nos dogmas trinitarianos e cristológicos dos concílios ecumênicos de Nicea (325 D. C.) e Calcedônia (451 D. C.). Quase tão importante, mas nunca promulgadas oficialmente, são várias doutrinas sobre os efeitos expiatórios e justificadores do ministério de Jesus. De acordo com a visão convencional, Jesus Cristo é tanto Deus como Salvador.

Esta Cristologia tradicional ainda é professada pela maioria dos Ortodoxos Orientais, Católicos Romanos conservadores e Protestantes evangélicos. Na opinião deles, Deus, o Pai, interveio na história de uma forma nova e definitiva a fim de restabelecer comunhão com os homens pecadores. Deus enviou Seu Filho, vestido com nossa carne, para transformar a humanidade em uma comunidade de amor fraternal. Então qual era a missão de Cristo? Sua obra era dupla: arrancar os homens de Satanás liberando-os da realidade pecaminosa das trevas e reconciliar o mundo com Deus. No início Deus tinha criado tudo através de Cristo. Deus também indicou Cristo como herdeiro de todas as coisas, para que em Seu Filho, Deus pudesse restaurar toda a criação. Portanto, Deus enviou Jesus ao mundo como o mediador entre Ele mesmo e os homens decaídos. Sendo que Cristo é Deus, dizem os tradicionalistas, a plenitude divina habita nele. Entretanto, porque ele também possui uma natureza humana, ele é o novo Adão, a cabeça de uma humanidade renovada. Assim, o Filho de Deus se tornou encarnado a fim de fazer os homens compartilharem na natureza divina. Ele veio entre os homens como um servo humilde, dando sua vida como resgate pelos pecados de toda a humanidade. 1

Desde 1900, cada aspecto desta Cristologia tradicional tem sido questionado pelos modernistas e pelos críticos bíblicos. Embora nunca tenha existido completa uniformidade nas várias denominações sobre a pessoa e obra de Cristo, estas diferenças de opinião recentemente se tornaram mais amplamente conhecidas. Portanto, devemos reconhecer que o Cristianismo moderno contém uma variedade de visões, nenhuma das quais realmente domina o cenário teológico. Talvez agora como nunca antes, a Cristologia exista em um estado muito fluído. Leigos e clérigos procuram respostas melhores para a antiga pergunta feita por Jesus, “Mas quem pode dizer quem eu sou?”

Primeiro, vamos considerar algumas das mais influentes Cristologias do século XX. Sendo que a influência de Karl Barth foi tão expressiva desde o fim da Primeira Guerra Mundial até próximo da Segunda Guerra Mundial, sua Cristologia será descrita primeiro. 2 Barth insiste que Jesus é o Vitorioso sobre o pecado e a morte. A reconciliação do homem com Deus já aconteceu. Por causa da vida de sacrifício e morte de Jesus Cristo, Deus já restaurou efetivamente, totalmente e objetivamente a humanidade para Si mesmo. Esta conversão do homem para Deus efetivada por Jesus Cristo veio totalmente de fora. Os homens não têm nada a ver com isso. Através de Cristo, Deus libertou e redimiu totalmente o homem. Assim o Jesus Cristo vivo é o círculo que envolve todos e cada homem no julgamento e graça divinos.

Mas se reconciliação já foi alcançada, qual o papel do homem? O homem não tinha nenhum papel no ato de Deus de reconciliação. Barth afirma que Deus agiu por Ele mesmo. Deus já estabeleceu a mesa para todos os homens, e nos convidou para o banquete que Ele preparou. Tudo que os homens devem fazer é reconhecer o fato, e sentar no banquete. Reconciliação então não é realmente dependente da mudança de atitude por nossa parte, ou em ter fé, ou viver de forma justa. Deus, por Sua própria iniciativa, já mudou a situação humana. Cristo já morreu por todos os homens para que eles estejam livres da culpa, pecado e morte.

Sendo que Cristo representa a humanidade e seu ato expiatório é para todos, Barth nega a doutrina Calvinista da dupla predestinação. Deus não predestinou ninguém para a condenação eterna. Pensar de outra maneira é limitar a liberdade de Deus fazendo Suas ações dependentes do comportamento dos homens. Entretanto, Barth também se opõe à doutrina comum da salvação universal. Deus não tem que salvar toda a humanidade, pois isso restringiria Seu livre arbítrio. Não obstante, Barth tende na direção da salvação universal, porque ele insiste que no amor de Deus vai para todos os homens, e que a graça divina superará todos os obstáculos. Como ele coloca, o fluxo da graça de Deus é tão forte e a represa que construímos para retê-la é tão fraca, que não há como evitar o colapso da represa e o fluxo das águas poderosas. 3

Se Cristo já reconciliou Deus e o homem, como se explica os males atuais? Para Barth o mal não tem nenhum status ontológico positivo. Mal é meramente caos ou o Nada (das Nichtige). Em Jesus Cristo, o mal foi superado e destruído pela vontade positiva da glória transbordante de Deus. Deus tornou o mal impotente à luz da cruz. Podemos pensar que o mal existe, mas isso é uma ilusão que engana os homens cujos olhos ainda não se abriram para o triunfo de Cristo. Quando uma pessoa tem fé, ela vê que Deus em Cristo desviou todo o mal. Para Barth, a única coisa que tinha que ser feita já foi totalmente cumprida em Cristo. Portanto, o que os cristãos devem fazer é simplesmente anunciar este fato. Nada mais é necessário, como Cristo já é vitorioso. Os homens são simplesmente convidados a verem o que ocorreu e serem gratos pelo amor vitorioso de Deus.

A Cristologia de Reinhold Niebuhr cresce a partir de sua teologia geral de “realismo profético.” Jesus Cristo revela como Deus está relacionado com a história. Tanto judeus como cristãos acreditam que a história tem direção e propósito. O Messianismo representa uma afirmação do objetivo da história. Quando os homens esperam o advento de Cristo, eles olham na direção do fim escatológico quando o significado da história será plenamente revelado e as esperanças da vida 4 serão cumpridas.

Entretanto, Jesus transformou a fé messiânica comum. O conceito do Velho Testamento do Messias contém três elementos:
1) uma crença egoísta no futuro triunfo da nação hebraica;
2) fé em uma vitória universal do bem sobre as forças do mal na história; e
3) um entendimento profético e supra-ético da história. Os profetas hebreus como Amós e Deutero-Isaías foram além da forma de messianismo comum nacionalista e racista. A glória e bênção da era messiânica não seria somente para judeus. Não obstante, estes profetas geralmente esperavam que o reino de Deus combinaria poder terreno com bondade. Ao mesmo tempo, os profetas hebreus estavam cientes que todas as nações se rebelaram contra Deus, e a história está em desafio à lei divina. Então como Deus pode julgar a história por seus pecados, e ainda assim, resgatá-la?

Jesus rejeitou o legalismo e o nacionalismo messiânico. Então ele reiterou profundamente o significado da história afirmando que o Messias deve sofrer. Ao combinar a ideia do Messias com a ideia do Servo Sofredor, Jesus deu essa visão surpreendente da história, que ele foi rejeitado. Seus contemporâneos esperavam o Messias para triunfar sobre o mal e resolver todas as dolorosas contradições da vida entre o ideal e o real. Jesus negou essa esperança.

Quando o Messias vem na história, ele deve sofrer. Amor puro deve sempre ser amor sofredor, porque a vida do homem está sempre sujeita à contingência, necessidade, orgulho e corrupção. A história inevitavelmente contradiz nossos ideais, como vemos a partir da morte de Cristo na cruz.

Niebuhr estava profundamente ciente das ambiguidades e ironias da história. 5 Sempre que os homens dizem que eles compreenderam o ideal, eles estão sempre mentindo ou se vangloriando. Toda civilização tem dentro de si as sementes de sua própria destruição. Na história os homens são sempre pecadores porque não há nenhuma forma de evitar o egocentrismo e o orgulho. É impossível realizar a utopia.

O realismo profético de Neibuhr pode ser visto em sua explicação da esperança escatológica. Os Evangelhos dizem que o reino está presente, e ainda está por vir. Como o reino está presente? A crença bíblica reconhece o valor deste mundo. Ela não nos pede para fugir da história. Assim, neste sentido, o reino de Deus já está aqui em alguma extensão. Ao mesmo tempo, o reino permanece no futuro. A história nunca pode ser perfeita. Por causa da finitude do pecado, não podemos realizar o ideal.

Então o que significa o Fim dos tempos apocalíptico? Para Niebuhr, a consumação da história repousa além do processo temporal. Nunca haverá um milênio messiânico na história. Os cristãos afirmam a soberania definitiva de Deus e a supremacia final do amor, mas eles não se enganam pensando que estas coisas podem ocorrer dentro de condições finitas e temporais.

A doutrina de Cristo de Emil Brunner representa uma expressão tipicamente moderna da teologia da Reforma. 6 Para ele, a fé em Cristo é o centro do Cristianismo, o fundamento para todas as outras doutrinas. Como outros teólogos da crise, Brunner criticou o retrato Protestante liberal sobre Jesus. O liberalismo é inadequado porque ele pensa sobre Jesus como meramente um grande mestre ou gênio religioso. Esta noção ignora a base da reivindicação do Novo Testamento que Jesus é o Cristo, uma pessoa única e não simplesmente 7 uma das várias personalidades religiosas na história.

Brunner também rejeita o Fundamentalismo. Os fundamentalistas acreditam que Jesus é o Filho de Deus porque isso é o que as Escrituras dizem. Em outras palavras, eles derivam sua fé em Cristo a partir da autoridade da Bíblia. Isto significa que eles implicitamente substituem a fé na Escritura pela fé pessoal em Jesus. De fato, a deles é uma religião do Livro ao invés de confiar em Cristo. Os fundamentalistas elevam a Bíblia para uma posição mais elevada do que de Jesus.

Como Calvino, Brunner trata primeiro da obra de salvação de Cristo, e então com sua pessoa. 8 A messianidade de Jesus deve ser entendida de forma funcional. Se Jesus era realmente Cristo, isto é por causa do que ele fez, ao invés de quem ele era.

Os títulos do Novo Testamento para Jesus descrevem a obra que Deus fez através dele para o benefício da humanidade. Ele é Cristo porque ele conduz os homens da atual época inaugurando a regência de Deus sobre a terra. Ele é Filho de Deus não de forma metafórica, mas porque Deus entrega Sua autoridade para Jesus. De forma semelhante, ele é Senhor porque ele recebeu o direito de reger sobre a igreja. Todos os títulos do Novo Testamento são funcionais ao invés de “substantivos” (ontológicos).

Como Calvino indicou, Jesus era o Messias, o que significa que ele ostenta os três ofícios de profeta, sacerdote e rei. Cristo era um profeta por causa de seus ensinamentos. Todos os seus ensinamentos pressupõem a autoridade messiânica de Jesus. Por exemplo, ele poderia corrigir ou abolir a Lei revelada de Moisés, sendo que como Messias, sua autoridade supera a da Torá. Contudo, a mensagem de Jesus não é doutrinal. Jesus proclama duas coisas: uma nova demanda por justiça e o dom da vinda do reino de Deus. Isto ilustra sua função profética. Embora tecnicamente Jesus fosse um leigo, ele carregava um papel sacerdotal. Como sacerdote, Jesus expia os pecados do homem. O Quarto Evangelho o descreve como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (1:29), e a Epístola aos Hebreus o chama de nosso sumo sacerdote (3:1-2). Mas de acordo com Brunner, a obra expiatória de Cristo não estava limitada à sua morte na cruz. A vida inteira de Jesus foi um ato de expiação e reconciliação. Toda a sua vida revela a misericórdia de Deus que estende os braços para Sua criação perdida. Jesus cumpriu ativamente a Lei por causa de seu amor generoso que salva.

A doutrina tradicional da expiação interpreta os efeitos redentores da crucificação. De acordo com Brunner, a cruz revela primeiro o amor incondicional de Deus. Ele nos ama a despeito de nosso pecado e nossa natureza de rebelião. Assim, Deus assume com disposição a culpa do homem sobre Si mesmo. Segundo, a cruz revela que Deus é justo e amoroso. O homem deveria ser executado como um criminoso por seus pecados, mas Cristo sofre em nosso lugar. Jesus voluntariamente morre em nosso benefício, um resgate pelos pecados de muitos. Terceiro, a cruz revela nossa situação atual, nossa necessidade de justificação. Precisamos ser salvos, assim, Deus restaura o homem para sua posição original no propósito de criação. Como Brunner defende, há aspectos objetivos como também subjetivos para a expiação. Subjetivamente, a cruz tem um profundo efeito sobre os homens. Objetivamente, ela tem um efeito sobre Deus, mudando de fato Seu relacionamento conosco.

Além de ser profeta e sacerdote, Jesus, o Messias, tem o ofício real. Jesus proclama o reino vindouro. Ele conquista as forças hostis para Deus. Doravante, Cristo governa através do amor e da livre obediência daqueles que confiam nele. Entretanto, Cristo é apenas potencialmente o governante divino sobre todos os homens. Seu verdadeiro domínio não será plenamente estabelecido até o fim da história.

Tendo analisado o entendimento de Brunner sobre a obra de Cristo, podemos agora avaliar a pessoa de Cristo. Brunner começa com o Jesus humano. Ao encontrar o homem, podemos passar a conhecer sobre Deus. Jesus compartilhou nossa humanidade comum. Ele era tão criativo quanto nós somos. Ele estava sujeito a todas as leis da natureza de crescimento. Ele sofreu as limitações humanas comuns. Por exemplo, Jesus foi tentado, embora em nenhum momento o Novo Testamento mostra ele sucumbindo à tentação. Seu conhecimento era limitado. Ele não podia prever o futuro: por exemplo, a data da chegada do reino vindouro. 9

Contudo, Jesus não era simplesmente um homem como nós mesmos. Sua vida estava totalmente unida com a vontade de Deus. Ele personificava o amor divino. O pecado não fazia parte de sua vida. Ainda mais importante, ele era único porque ele reivindicou a autoridade messiânica. Brunner nega o nascimento virginal de Jesus. Esta ideia não fazia parte do Keryma cristão original. Assim, ele chama isto de “um corpo estranho” dentro do Novo Testamento.

Jesus é o Deus-Homem:
1) porque ele realmente revela Deus;
2) porque ele nos reconcilia com Deus; e
3) porque ele nos faz servos fiéis de Deus. Por estas razões Deus estava em Cristo. De acordo com Brunner, se Jesus é o Revelador em sua pessoa, então ele deve ser Deus. Assim, Jesus é Alguém em quem Deus nos encontra – pessoalmente, não de forma impessoal.

Brunner nega a ressurreição física e ascensão corpórea de Jesus. 10 Estes dogmas não são uma parte essencial da fé Pascal em Jesus como o Senhor ressuscitado. O que mais importava para os discípulos originais não era a tumba vazia, mas seu encontro com o Jesus ressuscitado como uma realidade espiritual. Para Brunner, a ressurreição do corpo significa a continuação da personalidade individual após a morte. Quando cristãos falam sobre da exaltação de Cristo, eles estão utilizando a linguagem de parábolas, significando que Cristo é indicado por Deus para exercer domínio sobre a humanidade.

Brunner condena a teoria das “duas naturezas” de Nicea e Calcedônia por ser muito abstrata. Toda especulação sobre como a encarnação veio a existir ou como o Jesus histórico é “Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus” é infrutífera. Quando tentamos explicar filosoficamente como Jesus Cristo é tanto Deus quanto homem, acabamos nas contradições ilógicas do Nestorianismo ou Monofisismo. A unidade da pessoa de Jesus é um mistério além da formulação intelectual. Assim, Brunner afirma o “milagre impensável e inimaginável da encarnação,” 11 um evento sobrenatural a ser aceito somente pela fé.

Cristologia Atual

O Unificacionismo concorda com tendências recentes que Jesus era humano, como também de alguma forma divino. D. M. Baillie afirmou que a questão para o Jesus histórico força a teologia a assumir a plena humanidade de Jesus Cristo de forma mais séria do que antes. No passado os fiéis não reconheciam que Cristo era “consubstancial” com eles mesmos. Eles não admitiam que crescimento humano, ignorância, mutabilidade, luta e tentação eram características da vida de Jesus. Mas agora, diz Baillie, a crença na plena humanidade de Jesus deve se tornar a sua própria crença. 12

A completa humanidade de Jesus é reafirmada por Católicos como também por Protestantes. O estudioso bíblico Católico R. E. Brown escreveu que muitos cristãos imaginam que Jesus caminhou ao redor da Galileia com um halo brilhando sobre sua cabeça. Eles ignoram o retrato do Evangelho sobre Jesus: uma pessoa às vezes cansada, irritada ou tentada e tratada como um fanático pelas instituições religiosas e políticas de seu tempo. 13

O Novo Testamento não chama Jesus de Deus? Não há uma resposta fácil para esta questão. Repetidamente nos Sinópticos, Jesus faz uma clara distinção entre Deus e ele mesmo. Por exemplo, quando Jesus ora no jardim ou a partir da cruz, ele obviamente não está falando para si mesmo. As epístolas Paulinas e as pastorais distinguem entre Deus, o Pai, e o Senhor Jesus Cristo (I Coríntios 8:6) ou entre Deus e o mediador, o homem Cristo Jesus (I Timóteo 2:5).

Mesmo no Quarto Evangelho, Cristo declara que o Pai é maior do que ele mesmo (João 14:28). Portanto, estudiosos bíblicos geralmente concluem que as partes mais antigas do Novo Testamento não falam sobre Jesus como Deus.

Entretanto, três passagens utilizam explicitamente a palavra “Deus” (theos) para descrever Jesus (Hebreus 1:8-9, João 1:1, João 20:28) e há alguns textos onde o uso da expressão “Deus” para Jesus é possível, mas não certa (Tito 2:13, 1 João 5:20, Romanos 9:5 e II Pedro 1:1). Em outras palavras, Jesus nunca é chamado “Deus” em nossas antigas fontes, mas isto se torna crescentemente comum para atribuir divindade a ele enquanto os anos passam. 14

No mundo romano do final do primeiro século não era incomum atribuir divindade a um homem excepcional. Imperadores como Augusto foram chamados “Salvador divino” ou “senhor e deus.” Além disso, os judeus como também os pagãos politeístas acreditavam que havia muitos seres sobrenaturais além de Deus, o criador. Assim, era fácil para cristãos gentios transformarem o Jesus humano em um deus a ser adorado. Esta deificação de Jesus foi difundida em meados do segundo século. 15

A teologia Judaica nunca acreditou que o Messias seria a encarnação de Yahweh. Na maioria dos casos, os judeus esperavam um ser humano para conduzir a função messiânica. O Messias seria um descendente do Rei Davi, ou um sacerdote, ou um herói militar que liberaria a Terra Prometida. Não obstante, na messiologia Judaica, o Ungido poderia ocasionalmente ser considerado uma figura sobrenatural: um Filho do Homem escatológico ou um libertador angélico. Contudo, mesmo nesses casos, uma clara distinção foi definida entre o próprio Deus e Seu agente redentor, o Messias.

Se Jesus é humano, como ele é único? Ele era excepcional porque Deus o ungiu para ser o Messias. Essa era a confissão de fé mais antiga do Cristianismo. Entretanto, para Judeus e Cristãos Judeus, a messianidade era um papel funcional, ao invés de algo ontológico. Somente a vocação de Messias era muito especial. Deus o indicou para restaurar a linhagem divina do homem e trazer o reino celeste na terra.

Mais tarde, entre os Cristãos Gentios, este título messiânico não tinha nenhum sentido ou transmitia uma mensagem perigosamente enganosa. Eles simplesmente não estavam interessados em um Messias Davídico e não queriam estar envolvidos em qualquer movimento messiânico desenvolvido para libertar a Judéia do domínio romano. Consequentemente, no início, Jesus foi descrito como o Filho de Deus nas igrejas Cristãs Gentias.

Jesus era “sem pecado” não porque ele fosse por natureza diferente dos outros homens, mas porque ele nunca se desviou do curso estabelecido por Deus. Assim, qualquer singularidade que ele possuía era derivada em última análise do que Deus estava tentando fazendo através dele. A teologia da Unificação concorda com as críticas bíblicas que negam que Jesus pensava sobre si mesmo como “o Messias Servo Sofredor” que os cristãos reinterpretaram a esperança escatológica Judaica depois que seu Messias foi executado. Isaías 53 e Salmos 22 se tornaram textos provas do Velho Testamento para demonstrar que a morte de Jesus cumpriu profecias.

A era apostólica acreditava que a morte de Jesus na cruz trouxe a salvação total do homem? De modo nenhum! Os primeiros testemunhos do Novo Testamento declaram que a cruz era apenas um prelúdio para o advento da era messiânica em poder. O Cristianismo Apostólico não é uma religião do Jesus crucificado, mas proclamação do vindouro reino divino.

Por que Jesus Cristo tem sido uma influência poderosa na história? Porque, como um antigo hino cristão coloca, Jesus era o novo Adão que foi feito à imagem de Deus. Entretanto, ao contrário de seu predecessor, o segundo Adão se humilhou e se tornou o servo obediente de Deus, mesmo para morrer na cruz (Fil. 2:5 -11). Desde o início até o fim, Jesus foi dedicado à vinda do reino.

A Cristologia da Unificação é muito próxima dos teólogos recentes, exceto em um ponto. Não obstante, essa única diferença é derivada a partir do conceito Paulino do Segundo Adão. Adão devia se aperfeiçoar harmonizando seu corpo e sua mente em total união com o coração de Deus, encarnando assim o ideal de criação. Paulo chama essa pessoa de templo de Deus (I Cor. 3:16). Os padres da Igreja Ortodoxa da Oriente como Atanásio, Gregório de Nissa e Cirilo de Alexandria descrevem esse estado aperfeiçoado como deificação. Eles ensinam que o divino se tornou humano a fim de que o humano pudesse se tornar divino. Teólogos Protestantes como Ritschl defendem que porque Jesus era o Messias, ele possuía o valor de Deus para aqueles que o seguiam. De forma semelhante, o Princípio Divino ensina, “O homem que alcançou o propósito de criação assumiria o valor divino de Deus.” 167

O objetivo original de Deus para o homem era conceder três bênçãos: Ser frutífero, multiplicar e ter domínio sobre a criação (Gênesis 1:28). Tendo alcançado perfeição individual (ser frutífero), Adão estava com a bênção de Deus para se casar com Eva e produzir descendência (multiplicar), criando uma base quádrupla no nível familiar.

Nesse fundamento, Adão e Eva poderiam receber a terceira bênção (ter domínio), tornando-se senhores de toda a criação e verdadeiros pais da humanidade. Como o Segundo Adão, Jesus estava destinado a conduzir estas responsabilidades. O Messias deve inaugurar uma nova família de Deus.

Por causa da queda de Adão, Jesus devia subjugar Satanás erradicando a raiz do pecado original antes de receber a segunda bênção. Entretanto, condições além de seu controle tornaram impossível que ele completasse sua missão. Como os Judeus sempre indicaram, a era messiânica nunca chegou. Ou como os Protestantes conservadores acreditam, o reino chegará quando o Segundo Advento ocorrer. Não obstante, através de seu ministério e ressurreição, Jesus estabeleceu um fundamento espiritual para a continuidade da obra de Deus através da Igreja Cristã.


1 Decree on the Church’s Missionary Activity, II Vatican Council, 1: 3. Para afirmações de Ortodoxos Orientais e Protestantes, ver Metropolitan Philaret’s Longer Catechism (129-237) e Heidelberg Catechism (29-52) em Schaff, Creeds of Christendom (1877), 2 volumes.

2 Cf. Donald G. Bloesch, Jesus is Victor, Karl Barth’s Doctrine of Salvation (1976), pp. 32-71.

3 K. Barth, Church Dogmatics IV, 3, primeira metade (1961) pp. 555-556.

4 R. Niebuhr, Nature and Destiny of Man, Vol. 11 (1964), pp. 287-298.

5 Ibid., pp. 44-45.

6 E. Brunner, The Christian Doctrine of Creation and Redemption (1952), pp. 239-378. For perceptive evaluations of Brunner’s Christology, ver ensaios de Tetsutaro Ariga e E. A. Dowey em Kegley e Bretall, eds., The Theology of Emil Brunner (1962).

7 E. Brunner, The Mediator (1947), pp. 72-101. Para estes comentários posteriores sobre Bultmann e os escatologistas consistentes, ver Christian Doctrine of the Creation and Redemption, pp. 260-270.

8 Christian Doctrine of Creation and Redemption, pp. 271-307.

9 Ibid., pp. 322-324.

10 Ibid., pp. 352-356; cf. Brunner, The Mediator, pp. 322-327.

11 Ibid., pp. 371-378.

12 D. M. Baillie, God Was in Christ (1955), p. 11.

13 R. E. Brown. Jesus. God and Man (1967), prefácio, p. ix.

14 Ibid., p, 31: Se o tempo do Novo Testamento é datado de 30-100 D. C., o uso da palavra theos (Deus) para Jesus pertence à segunda parte desse período.

15 Ibid., p. 31 Ignácio de Antioquia (d. circa 107 D. C.) escreve sobre nosso Deus, Jesus Cristo” e “Jesus Cristo, o Deus.” By 150, 11 Clemente diz, “Brethren, devemos pensar sobre Jesus Cristo como Deus” (1:1). Cf. J. Hick, ed., The Myth of the Incarnate God (1977), pp. 87-119.

16 Divine Principle, p. 206.