Liberdade, Igualdade e Fraternidade

A evolução do elemento Liberdade, preservou parte de sua acepção original, no seio das democracias ocidentais. As distorções semânticas, todas elas geradas a partir da pobreza ideológica e pela deturpação decadente do sentido das palavras, fizeram com que a democracia transformasse o ideal de liberdade acalentado pela natureza humana, em mero libertismo irresponsável.

As definições da democracia por Abraham Lincoln, com excepcional retórica, proclamavam o governo “do povo, pelo povo e para o povo,” mas na realidade e na prática esta definição ainda contém algum sentido?

Na sociedade atual, o povo tem sido governado por “representantes eleitos,” pelo “exercício da liberdade de escolha e de voto,” ou seja, são eleitos aqueles candidatos que os meios de comunicação, as classes “donas” do poder, principalmente os poderes econômico ou doutrinário, determinam e definem para a “escolha popular e democrática.” Essa é a Liberdade que a sociedade humana atualmente entrega para seus concidadãos, em todas as suas formas de organização social.

Outra característica da sociedade atual é a facilidade e permissividade de se acessar determinados “frutos” da “assoberbada evolução e desenvolvimento social,” tais como as drogas, a corrupção, a prostituição e a decadência sexual, a violência, a impunidade de crimes, a deturpação da ordem familiar por aqueles que pretendem destrui-la, e etc, etc.

O princípio da isonomia, outro fundamento que as democracias modernas arrogantemente se apresentam como defensoras e justas aplicadoras, está a tal ponto deturpado e dilacerado, em uma nivelação vulgar e aritmética no mundo moderno, que os indivíduos são igualados perante a lei no momento do cumprimento de seus deveres, mas nunca no exercício de seus direitos.

Aquele ideal utópico da democracia e da sociedade moderna, ou seja, a verdadeira liberdade, nunca encontrou realmente um solo fértil. Em todas as atuais pseudo-democracias, o poder executivo tem sido exercido por alguma figura carismática e populista, um “monarca divinizado como um Faraó,” ou simplesmente um representante manipulado das oligarquias e grupos que se acham donos do poder – meros senhores feudais.

Na sociedade contemporânea, o ideal de liberdade tem sido atirado a esmo com tanta sem cerimônia, com tanta empafia ou tamanho descarado cinismo por seus líderes, que já lhe desvalorizou o sentido original.

Ainda hoje em pleno século XXI, para cerca de dois terços da população mundial, a democracia é entendida em termos meramente socialistas como igualdade econômica. O elemento igualitário, outrora defendido pelo socialismo, aparentemente apresentou sua redenção no sistema eclesiasticamente denominado de Capitalismo, que tem como fundamentos a propriedade privada e a liberdade de mercado. O elemento propulsor da atividade econômica, no sistema capitalista, é a geração de lucro. Os poderes públicos passaram a intervir no mercado e nos meios de produção, a fim de impedir o desregramento dos mecanismos econômicos que constituem a base do sistema, e assim, diminuir as desigualdades resultantes da distribuição primária das rendas realizadas através do mercado.

Os tributos recolhidos a partir dos lucros deveriam ser justos e proporcionais, e então redistribuídos nas ações públicas e sociais de forma também justa para alcançar todos os que estivessem sob esse sistema. Mas atualmente, na contramão do aumento cada vez mais voraz da capacidade de arrecadação, as despesas públicas praticamente não conseguem ser sanadas, porque os recursos se perdem nos atalhos da corrupção e da burocracia. Atualmente as intervenções públicas no sistema econômico atendem apenas interesses corporativos e isolados.

A concentração dos meios de produção e da riqueza nas mãos de poucos nunca foi tão avassaladora, nem mesmo no mais escandaloso período feudal da idade média, ou quando da existência das castas econômicas nos antigos países comunistas.

Essa concentração aumenta as desigualdades sociais, e como consequência, transforma o capitalismo em renascimento do mais brutal Feudalismo, dando insumos para o ressurgimento de neo-socialistas demagogos e retóricos.

O terceiro elemento – a Fraternidade – ao longo da história, foi absorvido pelos ismos religiosos, e perdeu qualquer conotação realmente social e prática para se tornar simplesmente motivação de campanhas fragmentadas e emotivas, úteis apenas para mover milhões em valores doados, mas sem qualquer eficácia concreta, haja visto que a cada ano os valores aumentam, mas os problemas permanecem.

Na verdade, o fracasso da democracia e do capitalismo, em sua finalidade social de defender a liberdade e a igualdade, esvaziou o espírito humano da necessidade de fraternidade para com seu semelhante.

Portanto, as elocubrações dos ditos “pensadores e intelectuais sociais” sobre aquele antigo trinômio – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – se perderam em um emaranhado complexo de sofismas e deturparam os mais nobres valores sociais.

Isto de fato ocorreu, e ainda ocorre atualmente, porque tais “pensadores” se afastaram da única instituição verdadeiramente capaz de resgatar e implantar uma sociedade realmente livre, justa e fraterna.

Um exemplo muito claro e óbvio de que essa instituição está muito desprestigiada na sociedade brasileira, é que sua defesa é feita somente no penúltimo capítulo da Constituição do Brasil. Apesar de sempre ouvirmos discursos inflamados alegando que ela é a “base da sociedade,” sua definição está restrita apenas a uma mera sociedade conjugal. Nem vamos falar sobre o que fizeram com essa instituição nas legislações inferiores, como no Código Civil.

Certamente, se os valores fundamentais concernentes à essa instituição – a família – estivessem direcionando todas as esferas sociais, a maioria das mazelas seriam reduzidas e minimizadas de forma realmente eficaz.

A instituição familiar, a verdadeira família, a panacéia de todos os males sociais, possui em seus fundamentos o padrão para fazer florescer a verdadeira e duradoura liberdade, a verdadeira e duradoura igualdade e a verdadeira e duradoura fraternidade. Por isso, a família deve ocupar o lugar de destaque como a ideologia do novo milênio, substituindo todos os “ismos” obsoletos.

No século XXI, a ideologia que devemos fazer prevalecer e defender com todo o nosso esforço, com todo o nosso coração e alma, é o Familismo.

Marcos Antonio Alonso é paulista, casado, 55 anos, formado em Administração de Empresas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná, MBA em Marketing for Business Advancement pela Universidade Federal do Paraná, MBA em Gestão de Negócios Financeiros pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Paraná e é formado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Unificação.