Deus Age na História
Pistas Bíblicas para a História de Restauração
Se a história tem um caráter intencional e registra os poderosos atos de Deus, existe alguma maneira que podemos entender como Deus exercerá Sua adequada soberania? Uma pessoa pode descobrir o plano de Deus para o futuro?
Muitas pessoas atualmente diriam que não há maneira de prever o que ocorrerá amanhã. Tudo está em fluxo. Nós criamos ou destruímos nosso próprio futuro porque somos dotados com livre arbítrio. Não há um plano definido, nenhuma direção segura para o curso dos eventos humanos.
Até os cristãos às vezes afirmam que o futuro é um mistério cujo segredo nenhum homem descobrirá. A história está nas mãos de Deus cuja providência é inescrutável. Como meros seres humanos podem presumir conhecer os segredos mais íntimos do Deus absolutamente transcendente? “Seus caminhos não são nossos caminhos e nem seus pensamentos são nossos pensamentos,” Barth costumava insistir, para provar a transcendência do Completamente Outro.
No entanto, os cristãos também fizeram duas outras afirmações. Primeiro, a tradição Judeu-cristã afirma que Deus tornou Sua vontade conhecida na história, e que a história é direcionada para um objetivo definido que Deus determinou desde o início. Segundo, tanto Jesus como os cristãos reivindicam que as Escrituras contêm revelações divinas: literalmente, um desvelamento do propósito de Deus para o homem e toda a criação. Se assim, então a Bíblia deve conter importantes dicas para o objetivo da história como também os meios de Deus para trazer sua realização. Sendo que Deus age na história e as Escrituras estão destinadas a revelar Seus planos de longo prazo, os cristãos não podem afirmar de forma lógica a total incompreensibilidade de Deus ou o completo ocultismo de Seu propósito definitivo. Por esta razão, a teologia da Unificação assume que a dica fundamental para a história de salvação pode ser descoberta através de uma interpretação inspirada da literatura bíblica.
Então quais são as regras para uma hermenêutica adequada da Bíblia? Como descobrimos a Palavra de Deus dentro das palavras da Bíblia, para utilizar uma terminologia neo-ortodoxa?
Para a teologia da Unificação, o relato de Adão e Eva é especialmente importante por entender a natureza e o destino humano. Uma vez que os capítulos do Gênesis são corretamente interpretados, pode-se entender a fonte da atual miséria do homem e sua glória futura.
Como Deus esperava que Adão executasse seu papel na criação? De acordo com a Bíblia, Yahweh pretendia que o primeiro casal desfrutasse para sempre a bem-aventurança do Éden estabelecendo um fundamento de fé e um fundamento de substância. Através da fé interna em Deus e da concreta obediência externa à vontade divina, Adão e Eva poderiam ter crescido em sabedoria e estatura, em benefício de Deus e um do outro. Sobre este fundamento interno e externo, o primeiro casal humano poderia ter criado uma base de quatro posições, tornando possível uma família centrada em Deus em um mundo centrado em Deus. Com a realização do propósito original de criação, a vontade de Deus então seria realizada na terra e no céu.
No núcleo da teologia messiânica tanto do Velho como do Novo Testamento está a convicção que o objetivo definitivo da criação pode e deve ser alcançado através de uma parceria restaurada entre Deus e o homem. Deus será capaz de inaugurar a Nova Era uma vez que o homem estabeleça os fundamentos de fé e de substância. Estes representam os pré-requisitos fundamentais para o advento da era messiânica em seu pleno esplendor. Assim, a partir do exato momento da queda de Adão, Deus esteve agindo na história para encontrar uma maneira para garantir ao homem as três bênçãos prometidas originalmente para Adão. As Escrituras devem ser estudadas a partir desta perspectiva. Sua mensagem principal se refere aos meios pelos quais o homem decaído pode ser restaurado a fim de que a alegria de Deus possa ser completa.
Depois de contar a história de Adão e Eva, o Gênesis relata o desastroso conflito entre seus dois filhos. Aqui também o Princípio Divino vê uma importante lição histórica. Embora a luta mortal entre Caim, o primogênito de Adão, e Abel, seu segundo filho, possa ter vários níveis de significado simbólico – por exemplo, a animosidade natural entre o pastor nômade e o agricultor estabelecido – seu propósito principal é demonstrar como a inimizade entre irmãos pode frustrar o objetivo divino para a criação. Na tradição Judeu-cristã, Caim há muito simboliza a hostilidade do homem decaído em relação a Deus e o ódio destrutivo dos outros. Abel, em contraste, é frequentemente considerado como um ser sofredor de Deus e mártir pela causa da justiça.
A teologia da Unificação segue junto com esta visão comum, contudo, descobre implicações mais profundas para essa história. Se Abel se coloca com Deus, e Caim se torna a ferramenta voluntária de Satanás, como será possível para uma humanidade dividida estabelecer o reino de Deus? Como Abel pode superar a animosidade de seu irmão e se tornar um servo efetivo de Deus? Caim utilizou a violência para obter o que ele queria, somente para descobrir que seu ódio tinha o alienado de Deus e de todos os homens. A tarefa de Abel era conquistar seu irmão com amor. Quanto a Caim, ele se sentiu rejeitado, alienado de Deus e ressentido com seu irmão mais jovem. Por causa do orgulho ferido e inveja, ele explodiu com raiva e matou Abel. O que Caim deveria ter feito? A despeito de seu orgulho ferido, ressentimento e amargura, Caim deveria ter superado isto em serviço devotado ao seu irmão e a Deus. Ao realizar suas porções específicas de responsabilidade, Caim e Abel poderiam ter reparado o dano causado por seus pais decaídos, poderiam ser reconciliados com seu Criador, e fornecido a Deus uma oportunidade para cumprir Seu ideal para a criação.
Ao longo da história, uma luta continua entre Caim e Abel. Esta rivalidade destrutiva ocorre em todo nível – individual, familiar, nacional e global – como uma manifestação da luta cósmica entre Deus e Satanás. Contudo, a única forma de Deus triunfar sobre Sua oposição é encontrar alguém que possa subjugar efetivamente o poder do mal através de serviço, humildade e amor. A tragédia de Abel se reflete na situação humana universal, porque ele falhou em demonstrar o poder triunfante do amor altruísta. Como a vontade de Deus será feita até que alguém possa nos demonstrar a forma para superar a desumanidade do homem com o homem?
Como as Escrituras explicam o método de Deus para restaurar a humanidade? Qual é o plano bíblico de salvação? O primeiro passo de Deus é localizar um personagem central através de quem Ele pode manifestar Sua vontade e exercer Sua soberania. Depois da queda de Adão, Deus busca por alguém na família de Adão. Mas mesmo a morte de Abel não o desencorajou.
Como o Velho Testamento relata, Deus se volta para Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, e finalmente Jesus, para torná-los os agentes de Sua vontade de redenção.
Assim, vemos que Deus opera através de personagens centrais a fim de realizar Sua vontade. Essa é uma das mais importantes lições das Escrituras. A Bíblia registra quão energicamente e persistentemente Deus age na história para encarnar Sua vontade nos níveis individual, familiar, tribal, nacional e global. Desde o tempo de Adão até nosso tempo, Deus esteve trabalhando para trazer harmonia entre terra e céu. Assim, o Princípio Divino interpreta o programa de restauração como um retorno ao princípio de criação original de Deus.
Uma segunda regra que governa o método de Deus de salvação é frequentemente esquecida nestes tempos, embora seja claramente reconhecido por alguns dos padres da igreja e muitos comentaristas rabínicos. Se alguém lê a Bíblia cuidadosamente, então notará como determinados números são repetidos várias vezes na história de salvação Judeu-cristã. Alguns destes números místicos são 3, 4, 7, 10, 12, 40, 70, 120 e 400.
Permita-me dar alguns exemplos. Adão teve 3 filhos (Caim, Abel e Set), Noé teve 3 filhos (Sem, Cam e Jafet) e Jesus teve 3 discípulos principais (Pedro, Tiago e João). Jacó teve 12 filhos, Moisés une as 12 tribos e Jesus escolhe 12 apóstolos. A duração do dilúvio no tempo de Noé foi de 40 dias, os hebreus passaram 40 anos no deserto e Jesus é tentado pelo Diabo por 40 dias. Há 70 membros na família de Jacó, Moisés indica 70 anciãos e Jesus envia 70 discípulos para proclamar a vinda do reino. Estes números podem ser apenas acidentais? Ou eles são a forma como Deus opera na restauração da humanidade? O Princípio Divino conclui que um estudo detalhado da repetição dos números na Bíblia revela as condições necessárias que devem ser cumpridas para Deus liberar o homem da escravidão satânica.
Se certos números místicos são importantes na descoberta do plano de salvação das Escrituras, eles também sugerem que Deus trabalha em estágios para trazer o Seu reino. Como há três estágios de formação, crescimento e aperfeiçoamento no mundo da natureza, assim a história pode ser dividida de forma semelhante em uma Era do Velho Testamento, uma Era do Novo Testamento e a vinda de uma Era Messiânica, ou seja, a história segue um padrão mais ou menos definido. Esta é a terceira importante lição ensinada pelas Escrituras.
Para os fiéis judeus, o núcleo das Escrituras é a Torá: a Lei revelada por Deus a fim de que os homens encontrem felicidade duradoura através da obediência aos mandamentos divinos. Cristãos geralmente olham para o Velho Testamento de forma muito diferente. Para eles, a história de salvação Judaica é de significado duradouro principalmente porque demonstra como Deus preparou Israel para o advento do Messias. Portanto, os cristãos tradicionalmente têm dado mais atenção para uma interpretação messiânica dos antigos escritos sagrados hebreus. Este também é o método seguido pelo Princípio Divino.
Desde meados do século XIX, um terceiro tipo de exegese tem muitas vezes suplantado ambos os métodos mais antigos. Ao invés de olhar para as Escrituras de forma teológica, a maioria dos estudiosos tentou entendê-las de forma histórica. Tão útil como o método histórico – o crítico pode ser ao ver as várias partes da Bíblia no contexto de sua base social, política e intelectual – tende a ignorar o valor dos textos sagrados.
Mesmo depois de se ver uma passagem bíblica à luz de seu ambiente cultural, a questão ainda deve ser levantada: Qual é a Palavra de Deus para o nosso tempo?
A partir do ponto de vista da teologia da Unificação, o propósito principal do Velho Testamento é demonstrar como Deus e o homem cooperam para restaurar o mundo decaído através do pagamento de indenização. Depois de Adão, cinco heróis do Velho Testamento provaram ser os personagens centrais no curso providencial de restauração: Noé, Abraão, Isaque, Jacó e Moisés. Por causa da intensa fé e determinação destes homens, Deus foi capaz de começar a reparar o dano causado pela Queda.
Qual foi a contribuição específica feita para a restauração por cada um destes personagens centrais? O Princípio Divino trata sobre a forma como eles serviram como 7 instrumentos de Deus em detalhe considerável. Para nossos propósitos, é somente necessário resumir suas realizações. Por causa de sua fé em Deus e sua determinação em obedecer o mandamento de edificar a arca, a despeito de dificuldades insuperáveis, Noé foi capaz de estabelecer um fundamento de fé no nível individual. Seguindo o mesmo curso de indenização, Abraão, Isaque e Jacó tiveram sucesso no estabelecimento de um fundamento de restauração no nível familiar. Finalmente, com o mesmo tipo de zelo em arrancar as tribos hebraicas da escravidão satânica, Moisés foi capaz de estender a base para a restauração ao nível nacional. De acordo com a teologia da Unificação, estas realizações são as características mais importantes da vida e pensamento religioso do Velho Testamento, para estes cinco personagens centrais prepararem o caminho para a missão de Jesus restaurar o homem no nível mundial.
Além das realizações de Noé, dos três patriarcas hebreus e Moisés, pode-se reconhecer várias leis básicas que operam no processo de redenção:
1) Deus está determinado a restaurar Sua soberania sobre a criação e completar Seu propósito original.
2) Ao homem é dado sua própria porção de responsabilidade que ele deve conduzir.
3) Quanto Deus é capaz de cumprir depende da extensão a qual o homem faz a sua parte.
4) Quanto maior a missão dada para uma figura central, mais difíceis as tentações que ela deve suportar.
5) Quando uma figura central fracassa, seu sucessor deve indenizar todo o curso anteriormente assumido antes de seguir em frente para continuar o processo de restauração.
6) A fim de realizar o propósito de criação, o homem deve estar preparado para resistir às ciladas de Satanás.
Como muitos estudiosos bíblicos têm indicado, este entendimento judaico sobre a história assume que o curso de eventos humanos corresponde a um padrão definido. Aprendendo as lições do passado, podemos ter alguma ideia do que ocorrerá no futuro. As ações de Deus nunca são irracionais ou arbitrárias, mas ao invés, revelam um plano, declaram as Escrituras.
Isto significa que o padrão geral de restauração na Era do Velho Testamento será repetido até um grau definido na Era do Novo Testamento inaugurada pelo advento de Jesus Cristo. Se estudamos detalhadamente a forma que Deus e o homem trabalham juntos para tornar o mundo pronto para a chegada de Jesus, podemos ver como Deus tem continuado a preparar para a Era Messiânica até o tempo presente.
Quais são os méritos especiais desta visão do Princípio Divino? Primeiro de tudo, ela reafirma de uma forma impressionante o valor e autoridade da revelação bíblica.
Em segundo lugar, a teologia da Unificação utiliza a fé bíblica que Deus age na história como uma dica para o caráter redentor de toda a história. Terceiro, ao fazer isso, ela corrige as inadequações da noção padrão Protestante que de alguma forma Deus cessou de falar e agir logo que as Escrituras foram escritas. Enquanto reconhece a autoridade revelatória das Escrituras, a teologia da Unificação aplica a mensagem bíblica para explicar a continuidade da atividade de redenção de Deus no mundo contemporâneo.
Qual foi o curso de restauração através de indenização que preparou o fundamento necessário para a missão de Jesus?
1. Quatro séculos de escravidão egípcia
2. Idade dos Juízes Hebreus
3. A monarquia hebraica unida
4. Os reinos divididos de Israel e Judá
5. O cativeiro babilônico e o retorno do exílio
6. Quatro séculos de preparação para o aparecimento do Messias.
De acordo com o Princípio Divino, a atividade redentora de Deus, e o homem trabalhando junto desde a morte de Jesus na cruz assumiu um curso paralelo de restauração através de indenização. Se isto é verdadeiro, então nosso próprio tempo é um momento de promessa sem precedentes.
7 Divine Principle, pp. 239-342.