O Regresso Final
Em uma de suas cartas, Agostinho descreveu os fiéis como cidadãos de outra comunidade onde o rei é a verdade, a lei é amor e sua duração é eterna. 42 O que acontecerá quando essa cidade celeste for firmemente estabelecida? Muitos cristãos acreditam que uma vez que a soberania de Deus esteja efetivamente assegurada sobre a criação, os santos desfrutarão da felicidade eterna do céu, e os pecadores sofrerão punição eterna no fogo do inferno. Outros cristãos têm uma visão muito diferente do final. Para eles, a visão de um inferno eterno é imoral e inacreditável. Como Berdyaev indica, acreditar em um inferno duradouro é conceder a vitória final para Satanás e confessar que Deus descobrirá 43 que é impossível obter o amor de todos os Seus filhos errantes.
Mas qual é a alternativa do céu para o bem e a condenação dos ímpios? Um número crescente de teólogos diz que a esperança cristã logicamente necessita de uma doutrina de salvação universal. 44 Se acreditamos que o amor de Deus é onipotente, então devemos afirmar a necessidade de reconciliação universal entre Deus e a humanidade. Cedo ou tarde todos os homens retornarão para a casa de seu Pai eterno com suas muitas moradias. Deus nunca pode ser plenamente feliz até que Ele se regozije na restauração de tudo que agora está rompido com orgulho e marcado com luxúria. Afirmar a definitiva soberania do Deus de coração implica o triunfo irresistível de Seu ágape sobre todos os obstáculos que os homens colocaram em seu caminho. Esta crença desde o tempo de Orígenes de Alexandria tem sido 45 tecnicamente chamada de doutrina de Apocatástase.
O Apocalíptico Fundamentalista
Em nosso tempo, dois grupos de cristãos afirmam que podemos estar (e provavelmente estamos) vivendo nos Últimos Dias. Por um lado, há um grupo considerável de Fundamentalistas Protestantes que proclamam em voz alta o retorno iminente do Jesus físico. Em outro lado estão os cristãos Unificacionistas que também ensinam que a consumação da história pode ocorre em nosso tempo. No entanto, porque há significativas diferenças entre a mensagem Fundamentalista e os ensinamentos do Princípio Divino, é importante não confundi-los.
Protestantes Fundamentalistas, como Hal Lindsey, defendem uma interpretação pré-milenar da Bíblia. 1 Quais são as características essenciais desta teologia apocalíptica? Primeiro, quando Jesus retorna, ele estabelecerá um reino terreno. Ao reinar como o rei messiânico, ele estabelecerá uma ordem social ideal na qual haverá completa paz, retidão e justiça.
Segundo, o reaparecimento de Jesus em forma corporal ocorrerá de forma repentina e dramática. Por causa de uma série de estupendos eventos sobrenaturais que anunciarão a Parusia, o retorno de Cristo será prontamente observável por todos. Os incrédulos reconhecerão imediatamente que o milênio chegou como resultado de seus acontecimentos miraculosos.
Sinais dos Tempos
Ajuda do Alto
A vasta maioria dos cristãos – com exceção dos Protestantes da Reforma 10 – sempre tem acreditado que existe comunicação regular entre os habitantes do mundo espiritual e as pessoas na terra. Na medida em que os antropólogos podem determinar, esta crença na interação regular destas duas dimensões da existência tem sido um dos mais antigos itens da fé dos homens. Essa crença pode ser encontrada na antiga Pérsia, Índia, China, América do Sul, Egito e Europa. 11 Como resultado de estudos modernos da experiência paranormal e pesquisa física, um número crescente de cristãos liberais também tem aceitado a verdade básica desta antiga fé. 12
Mas por que ocorre essa comunicação entre estas duas realidades? Católicos e Ortodoxos do Oriente diriam que oram a Santo Antônio, São Francisco ou a mãe de Jesus por inspiração, orientação e auxílio prático em sua peregrinação de fé. De acordo com o Princípio Divino isto também é verdade: nós na terra podemos ser grandemente assistidos pela ajuda pessoal a partir do mundo espiritual. Contudo, o Princípio Divino dá outra explicação geralmente negligenciada no pensamento cristão tradicional. O princípio de criação afirma que uma alma humana somente pode crescer até a perfeição em conjunção com seu próprio corpo físico nesta vida, ou mais tarde através de cooperação com pessoas na terra. Deste modo, homens espirituais que não alcançaram a perfeição devem descer para trabalhar com pessoas de missão semelhante a fim de concluir seu processo de restauração. 13Consequentemente, em pontos cruciais na história da salvação ocorre uma proliferação de fenômenos físicos. Isto explica porque o Evangelho de Mateus relata que após a morte de Jesus, muitos 14 “fantasmas” foram vistos na cidade de Jerusalém (27:52-53). Por uma razão semelhante, as antigas congregações cristãs estavam cheias com os dons espirituais de falar em línguas, profecia, milagres de cura, transes e visões de êxtase. Em um momento de grande significado na obra providencial de Deus, espíritos desencarnados descem para a terra para cooperar na realização do propósito divino. Ao fazer isso, eles são capazes de fazer rápidos avanços em seu próprio crescimento. 15
A Necessidade de Liderança
De acordo com o Princípio Divino, aquele que irá conduzir o ministério do segundo advento será um homem como Jesus. Como ele afirma, “é absolutamente incompreensível ao intelecto de homens modernos que o Senhor viria sobre as nuvens.” 28 A maioria dos teólogos, muitos pensadores cristãos nas maiores denominações e dezenas de milhões de pessoas atualmente que estão alienadas do Cristianismo tradicional no ocidente acham incrível a noção Fundamentalista que Jesus ascendeu de forma corpórea para um céu físico onde viveu por 2.000 anos, e a partir do qual descerá flutuando até a terra nas nuvens. 29 Esse tipo de crença não tem sido pregada em muitas denominações há pelo menos um século. Poucos teólogos se preocupam em mencionar essa noção tão pitoresca, e menos ainda perderiam tempo tentando defendê-la. Consequentemente, os Católicos Romanos têm sido aconselhados pelos teólogos do Vaticano que a crença no 30 retorno físico de Jesus não é exigida dos fiéis.
Entretanto, a maioria dos cristãos que desiste da noção obsoleta que Jesus está voltando está inclinada a ignorar o valor duradouro da esperança do milênio. Liberais, por exemplo, substituem a esperança na vinda de Cristo com fé no espírito sempre presente. Cristo está sempre conosco, nos guiando e inspirando os homens de boa vontade. Ele opera através de seu novo Corpo, a Igreja. Cristo está especialmente presente quando a Eucaristia é celebrada, declaram religiosos sacramentalistas. No caso de Protestantes evangélicos, eles insistem que Cristo está para sempre batendo na porta do coração humano porque ele quer residir para sempre na alma nascida duas vezes do indivíduo.
Onde Ele Virá?
Até agora, temos indicado como convergem a teologia da Unificação e outras tendências do pensamento cristão contemporâneo. O próximo passo parece bastante surpreendente. O Princípio Divino sugere que o instrumento humano escolhido por Deus para a criação da era vindoura aparecerá na Coreia. Esta afirmação pode ser difícil de aceitar no primeiro momento, e tem sido repetidamente ridicularizada. O Princípio Divino não é simplesmente um produto do nacionalismo coreano, como os críticos têm alegado?
Para entender esta parte da teologia da Unificação, pode ser útil recordar alguns ensinamentos bíblicos básicos. Primeiro, Deus é criador de todos os homens, assim, nenhuma nação é automaticamente indigna de ser Seu agente escolhido. Segundo, desde a época de São Paulo, os cristãos geralmente se recusavam a restringir o povo escolhido aos judeus. Terceiro, se Deus é soberano, então Ele é livre para fazer o que bem entender, a fim de realizar Sua vontade. Barth especialmente nos lembrou desta liberdade divina. Todas estas afirmações Judeu-Cristãs fundamentais devem provar que não é intrinsicamente impossível para Deus escolher um coreano.
Restauração Através de Indenização
Basicamente, a tradição Judeu-cristã é uma religião de redenção como também de revelação. Não somente queremos conhecer sobre a natureza de Deus, mas também devemos redirecionar nossas vidas atuais em conformidade com Sua vontade. “O que eu devo fazer ao ser salvo? Como uma pessoa pode ser renascida? Onde está o caminho que conduz para a vida abundante, aqui e na vida após a morte?” Estas são as questões fundamentais levantadas pelas Escrituras.
Para a teologia da Unificação, a história deve ser interpretada como o esforço persistente de Deus para restaurar o homem decaído para sua natureza original. A providência divina se refere à nossa recriação e restauração. Somos salvos quando, com a ajuda de Deus, somos capazes de nos separarmos de Satanás. Os homens se tornam redimidos através da liberação da escravidão do mal, são limpos do pecado original e crescem para a plena estatura de filhos e filhas de Deus.
Pistas Bíblicas para a História de Restauração
Se a história tem um caráter intencional e registra os poderosos atos de Deus, existe alguma maneira que podemos entender como Deus exercerá Sua adequada soberania? Uma pessoa pode descobrir o plano de Deus para o futuro?
Muitas pessoas atualmente diriam que não há maneira de prever o que ocorrerá amanhã. Tudo está em fluxo. Nós criamos ou destruímos nosso próprio futuro porque somos dotados com livre arbítrio. Não há um plano definido, nenhuma direção segura para o curso dos eventos humanos.
Até os cristãos às vezes afirmam que o futuro é um mistério cujo segredo nenhum homem descobrirá. A história está nas mãos de Deus cuja providência é inescrutável. Como meros seres humanos podem presumir conhecer os segredos mais íntimos do Deus absolutamente transcendente? “Seus caminhos não são nossos caminhos e nem seus pensamentos são nossos pensamentos,” Barth costumava insistir, para provar a transcendência do Completamente Outro.
Uma Visão Bíblica da História Cristã
De acordo com a visão mundial profética do Velho Testamento, Deus formata os eventos históricos em conformidade com Seu plano pré-determinado. Porque o povo escolhido de Israel acreditava que Yahweh afirma Sua majestade na história, eles foram impulsionados adiante por um senso de destino. Os hebreus consideravam suas ações como uma resposta à aliança de Deus, por isso eles estavam confiantes que algum dia o reino de Deus se tornaria uma realidade viva. 8
O que a teologia da Unificação faz é utilizar esta estrutura bíblica de história de salvação para explicar o padrão de avanço do Cristianismo. Embora esse método pareça bastante natural à luz da fé bíblica, o Princípio Divino realmente representa uma abordagem bastante inovadora. Onde antes se fez um esforço tão consistente para comparar o padrão de história de salvação do Velho Testamento com os eventos da era cristã posterior?
Idade da Ideologia
Sendo que a era cristã repete o padrão essencial da história de salvação do Velho Testamento, deve haver algum significado especial para estes últimos quatro séculos da era moderna. Nosso tempo apenas retrata o esgotamento espiritual da civilização ocidental, sua ruptura moral e o eclipse de sua consciência, como pensa o rabino Berkovits? 11 Ou é possível que todo o mundo esteja se movendo na direção de uma nova era de esperança, como predisse Moltmann? De acordo com o Princípio Divino, devemos examinar as implicações messiânicas de nosso tempo. Se parece que o homem contemporâneo habita no deserto, isso pode estar no caminho da terra da promessa, como os hebreus descobriram.
Anteriormente mencionamos como a história produz regularmente movimentos gêmeos de alguma forma comparáveis com os filhos de Adão, Caim e Abel. Isso significa que a história opera em termos de uma lei básica de polaridade. Portanto, a época moderna dá nascimento a uma série de várias tendências relacionadas, contudo, contrastantes:
a) A Renascença e a Reforma Religiosa
b) O Iluminismo e o Pietismo
c) As Revoluções Anglo-Americana e Francesa
d) Industrialismo e Idealismo Social
e) Nacionalismo e Imperialismo
Desastres e Reconstrução Globais
Para aqueles que cresceram antes de 1914, a Primeira Guerra Mundial significou o colapso de tudo o que eles mais queriam. Tillich relatou uma vez que a guerra significava o fim da era Protestante. Barth declarou que ele perdeu toda a fé no Cristianismo liberal de seus professores quando leu nos jornais que os mais proeminentes teólogos Protestantes na Alemanha deram entusiástico apoio às políticas militares do Kaiser Wilhelm II. O Papa Pio X, dizia-se, morreu de infarto do coração quando compreendeu que a Europa tinha mergulhado na guerra.
O Arquiduque Ferdinando, herdeiro do trono de Hasburgo, foi assassinado em 28 de junho de 1914. Quando a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, a Sérvia chamou a Rússia Czarista para ajudar. A Rússia, França, Grã-Bretanha e Itália se mobilizaram para combater os Poderes Centrais: Áustria, Alemanha e o Império Otomano encabeçado pelo sultão da Turquia. Sendo que a maioria dos grandes poderes tinham colônias ultramarinas na Ásia e África, a luta estourou em escala mundial. Então, quando parecia que os Aliados poderiam perder a Guerra, os Estados Unidos interviram.